quarta-feira, 30 de março de 2011

O Crepúsculo da Beleza

Vê-se no espelho; e vê, pela janela,
A dolorosa angústia vespertina:
Pálido, morre o sol… Mas, ai! termina
Outra tarde mais triste, dentro dela;
Outra queda mais funda lhe revela
O aço feroz, e o horror de outra ruína:
Rouba-lhe a idade, pérfida e assassina,
Mais do que a vida, o orgulho de ser bela!
Fios de prata… Rugas… O desgosto
Enche-a de sombras, como a sufocá-la
Numa noite que aí vem… E no seu rosto
Uma lágrima trêmula resvala,
Trêmula, a cintilar, – como, ao sol-posto,
Uma primeira estrela em céu de opala…
 Olavo Bilac

domingo, 27 de março de 2011

Seja o mais leve inseto...

V
 
Seja o mais leve inseto, a laje mais pesada, 
Tudo se decompõe na efêmera jornada. 
Não há bronze que ature os arrastos tiranos 
Da cheia assoladora e indomável dos anos; 
Só o espírito ascende, escapa às tempestades, 
Não rola na ladeira eterna das idades.


O sol que resplandece, a estrela que cintila, 
Tudo se transfigura em mentirosa argila, 
Nada é perpétuo, nada, embora nos conforte 
A vida a ressurgir dos escombros da morte, 
Para voltar de novo aos trágicos momentos, 
Ao silêncio voraz dos apodrecimentos.


Seca uma folha idosa, outra folha rebenta,
E torna, cedo ou tarde, à poeira que a sustenta.
Morre uma flor galante, outra flor engraçada
Vinga, e a ceifa devora a planta engrinaldada;
Sazona um fruto ameno, outro fruto aparece
Verde, e, se o poupa o  campônio, algum  dia apodrece...


É a morte soberana, o lodo nivelando, 
O tempo demolindo, e o tempo edificando. 
Falemos do painel das tintas desbotadas... 
Quantos vestígios mil de coisas acabadas!
Ferreira Itajubá
(...) Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior de nosso ser e de nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. É disso que se trata, afinal, e é o que essas pistas nos ajudam a procurar, dentro de nós mesmos. CAMPBELL

Segundo ensaio aberto...

quarta-feira, 23 de março de 2011

antes da queda...

...Pode ser – o artista espera – que sua obra se anime para os outros e testemunhe a construção de 
uma linguagem dentro de outra, o ultrapassamento do campo disponível pela 
instauração de um novo sentido. Pode ser que isso ocorra agora, daqui a pouco, 
daqui a alguns anos, ou não ocorra; como saber deste tempo de ressonância do poético, do artístico?
“a espiral é um vácuo, ela representa alguma coisa, o vazio ansiedade, o vazio da ansiedade (...) a espiral é uma tentativa de controlar o caos. Ela tem duas direções. Onde você se coloca: na periferia ou no vórtice? A começar pelo exterior está o medo de perder controle, a torção para dentro é uma
constrição, um isolamento, uma compactação ao ponto de desaparecimento. A
começar pelo centro, está a afirmação, o movimento centrífugo é a representação do abandono do controle, da confiança, da energia positiva, da vida em
si mesma”Apud Christine Meyer-hoss 



domingo, 20 de março de 2011

O homem...

"O homem não é apartado do divino. Ele só precisa trazer sua atividade mental espontânea para um estado de contemplação e experimentará o princípio divino que o cerca, que é a verdadeira essência de sua existência. E esta essência é idêntica em cada um de nós. Nós somos, como sempre fomos, centelhas de um único fogo; e nós somos todo fogo. Há uma eterna revelação da verdade em torno de nós, todo o tempo, e nós precisamos somente focar corretamente os olhos para experimentá-la. "Campbell

quinta-feira, 17 de março de 2011

Um gosto mais de decomposição do que de composição

POR CRISTIANO DE SALES ::

A racionalização de Schopenhauer na poesia de Augusto dos Anjos

Havia em Augusto dos Anjos alguma coisa de um moderno pintor alemão expressionista. Um gosto mais de decomposição do que de composição”.
Gilberto Freyre.

Muitas são as possibilidades de leitura quando o que se encontra no centro da discussão é a obra do “mais original dos poetas brasileiros entre Cruz e Sousa e os modernistas” (BOSI, 1994:287). Partindo-se da epigrafe acima selecionada, o presente artigo tem a pretensão de ler Augusto dos Anjos relacionando-o com uma das (talvez a mais definidora quanto ao perfil da obra) influências que permearam a obra do poeta paraibano, aproximando-o, de maneira significativa, ao movimento que surgia em fins do século XIX e início do XX na Alemanha, o Expressionismo.

A impressão deixada por Gilberto Freyre vai ser melhor analisada no ensaio intitulado A costela de prata de Augusto dos Anjos do crítico alemão Anatol Rosenfeld, que tendo como base o New Criticism alemão – é importante ficar claro que não se trata da “escola” norte americana – realizou valiosos estudos críticos acerca da literatura brasileira.

Rosenfeld inicia seu ensaio comparando a linguagem do poeta, fortemente marcada pelos termos científicos, com o que Adorno chamaria de exogamia lingüística, e que, segundo o crítico, é de certa forma análogo ao que se tinha como pensamento acerca do mundo e do homem no expressionismo alemão. Porém a analise proposta em A costela de prata de Augusto dos Anjos aplica-se à poesia e não à pintura, como havia sugerido Gilberto Freyre, e os versos tomados como objeto de estudo são do poeta alemão chamado Gottfried Benn.

No referido ensaio o autor aproveita um trabalho de filologia, onde Walter Jens estuda a linguagem de Benn atribuindo a ela, em particular, uma marca do que seria o início da literatura alemã moderna, e passa a ler os versos do poeta alemão paralelamente aos de Augusto dos Anjos, já que as “coincidências” vão além da linguagem científica, empregada por ambos, passando pela decomposição do ser humano, evidenciada tanto numa quanto noutra obra, chegando, enfim, à simultaneidade em que as mesmas eram produzidas. O termo “coincidências” é propositalmente empregado aqui para que fique claro não estar-se falando ainda em influências, pois é bem provável que Augusto dos Anjos sequer soubesse da existência de Gottfriede Benn e de seu trabalho, bem como de todo o movimento que estava se configurando na Alemanha da época (dada a, já mencionada, contemporaneidade).

Para que se possa falar de influência, e é isso que está pretendido aqui, é preciso pensar em Schopenhauer. Segundo o próprio Rosenfeld num outro ensaio intitulado Influências Estéticas de Schopenhauer, as teorias do filósofo alemão estão de tal maneira entranhadas na cultura ocidental que se fundem com os hábitos de pensar e sentir de europeus e americanos. O principal exemplo disso pode ser encontrado em Freud, que teria sido talvez o principal intermediador entre nós e a “epopéia filosófica da vontade irracional de Schopenhauer”.

E dentre as teorias a que se refere Rosenfeld a mais pertinente à discussão que se propõe aqui é a teoria da racionalização, minuciosamente exposta na obra O Mundo como Vontade e Representação.

Tentando dar conta em poucas palavras, apenas para que se possa prosseguir com este ensaio, do que seria o cerne desta idéia vamos buscar Rosenfeld lendo Schopenhauer:
“... não desejamos uma coisa por termos encontrado razões para desejá-la, mas inventamos, posteriormente, razões, sistemas e teologias para mascarar, diante de nós mesmos, os nossos desejos profundos e os nossos interesses vitais”.
(ROSENFELD,1976: 175)
Com isso estaria o homem condenado a frustração, já que seus desejos não seriam em sua maioria satisfeitos. A esta idéia sim podemos atribuir a semelhança entre Augusto dos Anjos e Gottfried Benn, pois ambos estariam produzindo sob a influência do filósofo alemão, que também pode ser lido como aquele que coloca a dor como essência do mundo (vem daí a temática pessimista), que segundo estudiosos é um considerável ponto de interseção entre Augusto e Schopenhauer. A partir de agora o poeta alemão será deixado de lado para se fazer presente apenas a “concreta” influência filosófica do poeta brasileiro.

Evidentemente não se pode correr o inconseqüente risco de atribuir a esta temática pessimista, onde a regra é a frustração, o único ponto em que as temáticas do filósofo e do poeta convergem, pois o monismo, o conhecimento como fonte de sofrimento, o bom caráter e a felicidade como exceção e não como regra, o amor como algo negativo, dentre outros, são pontos que evidenciam a aproximação entre os dois autores. Porém o objetivo do texto presente é mostrar o quanto o cerne da teoria da racionalização atravessa a obra de Augusto dos Anjos.

Numa tentativa não de legitimar o ensaio, mas de apontar o quanto esta idéia já fez parte dos estudos de vários críticos de nossa literatura, poderia ser listada aqui uma série de transcrições ligando-nos a Ferreira Gullar, bem como a Elbio Spencer, José Escobar Faria, dentre outros. No entanto, vejamos o que nos tem a dizer o pesquisador Henrique Duarte Neto em sua dissertação de mestrado intitulada AS COSMOVISÕES PESSIMISTAS DE SCHOPENHAUER E AUGUSTO DOS ANJOS.
Em Schopenhauer a dor e o sofrimento imperam no mundo porque derivam da vontade, que é, para ele, a essência do mundo, a verdadeira coisa em si.(...) Escravo de seu querer e, por isso mesmo, um ser que não é livre, o homem é a mais miserável de todas as criaturas. Esse querer produzido por uma vontade insaciável está, por conseguinte, muito mais fadado a não ser satisfeito do que satisfeito,(...) Já em Augusto dos Anjos pode-se apontar a dor (ao lado da derrocada, da decomposição da matéria) como sendo a própria essência do mundo. Neste mundo em que os entes são efêmeros e fadados a inúmeros sofrimentos, a dor, por outro lado, é perene (...).
(NETO, 2000: 98)
Nesta dissertação o autor perpassa as principais temáticas que aproximam Augusto dos Anjos de Schopenhauer, culminando na salvação pelo nada, onde a própria proliferação da espécie, ou seja, a manutenção da vida, se constitui em contribuição ao sofrimento.

Portanto, sem o receio de cairmos num reducionismo (já que a empreitada aqui é tomarmos contato com a influência que faz da obra de Augusto dos Anjos algo semelhante ao expressionismo alemão, sugerida pelos críticos) partamos para a verificação de como funciona esta influência nos versos do poeta, tomando como objeto dois poemas (A Floresta e Numa Forja) sugeridos por Rosenfeld e, em parte, trabalhado pelo mestrando, acima citado.

A Floresta
Em vão com o mundo da floresta privas!...
- Todas as hermenêuticas sondagens,
Ante o hieróglifo e o enigma das folhagens,
São absolutamente negativas!
Araucárias, traçando arcos de ogivas,
Bracejamento de álamos selvagens,
Como um convite para estranhas viagens,
Tornam todas as almas pensativas!
Há uma força vencida nesse mundo!
Todo o organismo florestal profundo
É dor viva, trancada num disfarce...
Vivem só, nele, os elementos broncos
- As ambições que se fizeram troncos,
Porque nunca puderam realizar-se!
A começar do título já se pode notar que o soneto sugere um lugar cuja essência está no instinto, já que esta é a força que impera em meio à vida que lá existe. Ou seja, a intervenção racional do homem não é invocada ao que tudo indica. Afinal, conforme traz a primeira estrofe, toda a tentativa de interpretação se revelará negativa diante da complexidade da floresta.

A segunda quadra é um convite à reflexão e ressalta a sedução de um mundo que em muito lembra o olhar, ou a descrição, que Euclides da Cunha volta ao sertão, também na virada do século. Mas é a partir do primeiro terceto que a idéia schopenhauriana começa a ganhar traços bem definidos, pois nele estão contidos dois pilares fundamentais na construção teórica do pessimista filósofo: a dor como essência e o disfarce.

Por fim o poeta encerra seus quatorze versos evidenciando de forma precisa a frustração dos desejos não realizados, que no caso específico solidificam-se em troncos, tornando-se broncos.
Para culminar esta análise notemos que nos versos enxertados a seguir poderemos não apenas reforçar nossa argumentação, mas também verificar uma outra marca do expressionismo alemão, fortemente influenciado pela filosofia da racionalização (conforme já havia sido dito), que é o anseio pelo ‘grito’:

(...)
Era, erguido do pó,
Inopinadamente
Pra que à vida quente
Da sinergia cósmica desperte,
A ansiedade de um mundo
Doente de ser inerte,
Cansado de estar só!
(...)
(trechos de Numa Forja)
Embora o ‘grito’ não esteja explicitamente empregado nos trechos acima é inegável a sensação de que algo necessita explodir, de que algo está clamando para que uma “sinergia cósmica” atue na direção da ruptura com o mundo “inerte” e “cansado”. Essa manifestação (o grito), é um anseio que está presente também na música, por que não dizer expressionista, de um Schoemberg, funcionando por meio das dissonâncias e dos estranhamentos. Porém é nas artes plásticas, conforme insinuava Gilberto Freyre, que esse ‘grito’ parece ter representação mais explicita. Sem pensarmos no movimento expressionista propriamente dito, temos em O grito, de Munch, uma bela representação do que está sendo argumentado, já que há nesta tela a paradoxal fusão de um grito e uma surdez, de um som e sua ausência, de um desejo e sua não realização, enfim, de um gritar pra dentro, abafado. Não obstante, querendo optar pelo depoimento de nosso crítico-historiador, temos Paul Klee, dentre outros artistas plásticos da virada do século, que serviram como precursores do expressionismo alemão.

Portanto, é fato que este grito não ocorre e mais um desejo finda no amargo caminho da insatisfação. E os motivos desse não gritar estão muito bem expressos ainda em Numa Forja:
Repuxavam-me a boca hórridos trismos
E eu sentia, afinal,
Essa angustia alarmante
Própria da alienação raciocinante,
Cheia de ânsias e medos
Com crispações nos dedos
Piores que os paroxismos
Da árvore que a atmosfera ultriz destronca.

A cerração involuntária da boca devido à contração dos músculos, ou seja, os “hórridos trismos” são causados pela “alienação raciocinante”, pois os “medos” e as “crispações nos dedos”, que dela resultam, doem mais do que a mais intensa dor causada por um desejo de vingança, por uma atmosfera ultriz.

Bibliografia:
ANJOS, Augusto dos. Obra Completa: volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. (Biblioteca Luso-brasileira. série brasileira).
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, SP: 40. ed. Cultrix, 1994
DUARTE NETO, Henrique. As cosmovisões pessimistas de Schopenhauer e Augusto dos Anjos. Florianópolis, 2000. Dissertação (Mestrado em Literatura) – Programa de Pós- Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000.
DURANT, Will. A História da Filosofia. Rio de Janeiro: Nova Cultural, 1996 (Coleção Os Pensadores).
KLEE, Paul. Diários. 1. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1990 (Coleção a).
ROSENFELD, Anatol. Texto/Contexto. 3. Ed. São Paulo: Perspectiva, 1976 (Coleção Debates).

Francesco Sambo

Os Estranhos Híbridos de Francesco Sambo






Até os últimos instantes de ontem...


"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
José Saramago

quarta-feira, 16 de março de 2011

quem morre...

Muere lentamente quien no viaja,
quien no lee,
quien no oye música
quien no encuentra gracia en sí mismo
Muere lentamente
quien destruye su amor propio,
quien no se deja ayudar.
Muere lentamente
quien se transforma en esclavo del hábito
repitiendo todos los días los mismos
trayectos,
quien no cambia de marca,
no se atreve a cambiar el color de su vestimenta
o bien no conversa con quien no conoce.
Muere lentamente
quien evita una pasión y su remolino de
emociones,
justamente éstas que regresanel brillo a los ojos
y restauran los corazones destrozados.
Muere lentamente
quien no gira el volante cuando está infeliz con
su trabajo, o su amor,
quien no arriesga lo cierto ni lo incierto para ir
atrás de un sueño
quien no se permite, ni siquiera una vez en su vida,
huir de los consejos sensatos......
¡ Vive hoy !
¡ Arriesga hoy !
¡Hazlo hoy !
¡ No te dejes morir lentamente !
¡ No te impidas ser feliz !
Pablo Neruda. Escritor  (1904-1973) 
Premio Nobel de Literatura (1971)

segunda-feira, 14 de março de 2011

PRODUTO PERECÍVEL LAICO

L A I C O ? ? ?

O PORTO, BAUDELAIRE

Um porto é um lugar charmoso para uma alma fatigada das lutas da vida. A amplitude do céu, a arquitetura móvel das nuvens, as colorações mutantes do mar, a cintilação dos faróis são um prisma maravilhosamente próprio para agradar aos olhos sem jamais os cansar. As formas projetadas dos navios, de aparelhagens complicadas, às quais as ondas imprimem oscilações harmoniosas, servem para manter na alma um gosto pelo ritmo e pela beleza. Além disso, sobretudo, há uma espécie de prazer misterioso e aristocrático para todo aquele que não tem mais nem curiosidade, nem ambição, em contemplar, deitado em um terraço ou de cotovelos na balaustrada, todos esses movimentos dos que partem e dos que voltam, dos que ainda têm a força de querer, o desejo de viajar ou de enriquecer.
In BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa. Tradução de Gilson Maurity. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Record, 2009, p.230-231,Tradução de Gilson Maurity.

SE EU MORRESSE AMANHÃ!

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

In:AZEVEDO, Álvares de. Poesias escolhidas. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1971, p. 217.
Pintura:Anime, Siron Franco

OS OLHOS DA ARTE

"Enquanto estiver vivo não vou deixar de me indignar e a indignação não traz ódio, traz energia criativa." Siron Franco

Siron Franco. Enxadas. Instalação,1999

Siron Franco, tríplice condição: ser humano, cidadão, artista.
Artista-cidadão entre cidadãos, imerso nas tensões da sociedade, manifestando-se sobre as aflições éticas do seu tempo.
De certo modo, o exercício da arte já é político por si, sem precisar defender nenhuma causa a princípio. Mas é claro que as questões locais, a violência, ecologia, distribuição da terra e tantas outras questões sociais e políticas, que são parte do mundo em que vivemos, podem vir a ser matéria de inquietação do artista.
Siron - (...)Acho, até mesmo, que a ética pode indicar caminhos para a estética. O que às vezes não é bem visto, sobretudo pelos curadores. É bom que se diga: os curadores, hoje, exercem um papel totalitário sobre as artes. São eles que decidem o que as pessoas vão ver ou não. Por exemplo, se um curador gosta de arte conceitual, só ela entra. Adoram a Alemanha, não importa o que venha de lá. Chamo isso de "cordeirismo cultural". Antigamente o termo usado era colonialismo.
Estado - O fenômeno das cabeças colonizadas funciona nos dois sentidos. Tudo o que vem de lá é bom. E se você é aceito lá fora, então as portas se abrem por aqui.
Siron - Ah, sim, se você faz sucesso lá fora, e sobretudo na Alemanha, então eles têm de engoli-lo. Isso é uma imbecilidade. Somos todos internacionais, mas um país tem de consumir a sua arte própria. Sobretudo um país de tanta diversidade cultural como é o Brasil. Não podemos viver escravos desses modismos excludentes. É estranho. Vem um crítico carioca e diz: chega de figuras humanas. Então se decreta que o figurativismo está proscrito. No entanto, você vai aos Estados Unidos, que é o outro modelo deles, e vê que todas as manifestações artísticas estão vivas, coexistindo.

domingo, 13 de março de 2011

...em seus gritos

"Não quero que ninguém ignore meus gritos de dor,
 e quero que eles sejam ouvidos." Antonin Artaud

O Belo escondido em seus gritos.

O Belo escondido em seus gritos.
Você nua e gelada.
Solidão é o que encontro a cada grito seu.

É extremamente frio o chão em que estou deitado.
Ao seu lado, te observando vejo o vestido sujo e rasgado.
E um olhar vazio, onde a unica beleza que sai de ti são seus gritos.

Reze muitas vezes ao dias.
Chore.

Mas, perceba que....o belo escondido, sempre estará em seus gritos.



Danilo Firmo.

Pós-ensaio aberto


De Alma em Alma
Tu andas de alma em alma errando, errando,
como de santuário em santuário.
És o secreto e místico templário
As almas, em silêncio, contemplando.
Não sei que de harpas há em ti vibrando,
que sons de peregrino estradivário
Que lembras reverências de sacrário
E de vozes celestes murmurando.
Mas sei que de alma em alma andas perdido
Atrás de um belo mundo indefinido
De silêncio, de Amor, de Maravilha.
Vai! Sonhador das nobres reverências!
A alma da Fé tem dessas florescências,
Mesmo da Morte ressuscita e brilha!
Cruz e Sousa

quinta-feira, 10 de março de 2011

ENSAIO ABERTO PRODUTO PERECÍVEL LAICO

09/03/2011
Território Cultural 2011
foto
Chegou a hora de aproveitar a programação gratuita e aberta ao público oferecida pelo Território Cultural da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.

Realizados sempre aos sábados, os Territórios Culturais vão contemplar projeções de filmes, shows, leituras dramáticas, debates com artistas, grupos e pesquisadores, palestras e oficinas. A ideia é que o Território Cultural seja cada vez mais um espaço para o ensino de aprendizes, mas que também continue dialogando com a cidade.

“O legal é que com o Território Cultural surge a abertura para os aprendizes apresentarem projetos paralelos ao da Escola. E, claro, podemos interagir com pessoas de outros cursos”, diz Nadja Moraes, aprendiz de Humor do período matutino.
A programação de 12 de março, primeiro Território Cultural de 2011, está repleta de opções divididas, dessa vez, em dois locais: a SP Escola de Teatro e o Teatro Anhembi Morumbi (veja o endereço abaixo).

Logo pela manhã, das 9h às 10h, no Teatro Anhembi Morumbi, teremos o ensaio aberto do espetáculo “Produto Perecível Laico”, de Sandro Borelli. Das 10h às 12h, o médico homeopata Amadeu Amaral apresenta uma palestra sobre arte e ciência. Das 12h às 13h, está marcado um encontro com o coordenador pedagógico, Joaquim Gama.

Enquanto isso, na sede provisória da SP Escola de Teatro, das 9h às 10h, uma oficina sobre “Ator Criador” com Carla Candiotto. No período vespertino, na própria Escola, das 14h às 17h30, será realizada uma oficina com Iara Jamra e Alexandre Marchesini. No mesmo momento, haverá, também, uma palestra com o iluminador Nelson Ferreira e um encontro com o diretor e autor José Rubens Siqueira. Às 15h, ainda na SP Escola de Teatro, a aprendiz do curso de Humor, Maressa Galvão, apresentará uma pequena cena.

Locais:
SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, na Avenida Rangel Pestana, 2.401, Brás.
 
Teatro Anhembi Morumbi, na Rua Dr. Almeida Lima, 1.198, Mooca.

SP Escola de Teatro - Centro de Formação das Artes do Palco
09/03/2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

ARTE (I)

Como eu vibro este verso, esgrimo e torço,
Tu, Artista sereno, esgrime e torce;
Emprega apenas um pequeno esforço
Mas sem que a Estrofe a pura idéia force.


Para que surja claramente o verso,
Livre organismo que palpita e vibra,
É mister um sistema altivo e terso
De nervos, sangue e músculos, e fibra.


Que o verso parta e gire -- como a flecha
Que d’alto do ar, aves, além, derruba;
E como os leões, ruja feroz na brecha
Da Estrofe, alvoroçando a cauda e a juba.


Para que tenhas toda a envergadura
De asa e o teu verso, de ampla cimitarra
Turca, apresente a lâmina segura,
Poeta, é mister, como os leões, ter garra.


Essa bravura atlética e leonina
Só podem ter artistas deslumbrado:
Que souberam sorver pela retina
A luz eterna dos glorificados.


Busca palavras límpidas e castas,
Novas e raras, de clarões radiosos,
Dentre as ondas mais pródigas, mais vastas
Dos sentimentos mais maravilhosos.


Busca também palavras velhas, busca,
Limpa-as, dá-lhes o brilho necessário
E então verás que cada qual corusca
Com dobrado fulgor extraordinário.nódoa


Que as frases velhas são como as espadas
Cheias de nódoa, de ferrugem, velhas
Mas que assim mesmo estando enferrujadas
Tu, grande Artista, as brunes e as espelhas.


Faz dos teus pensamentos argonautas
Rasgando as largas amplidões marinhas,
Soprando, à lua, peregrinas flautas,
Louros pagãos sob o dossel das vinhas.


Assim, pois, saberás tudo o que sabe
Quem anda por alturas mais serenas
E aprenderás então como é que cabe
A Natureza numa estrofe apenas.


Assim terás o culto pela Forma,
Culto que prende os belos gregos da Arte
E levará no teu ginete, a norma
Dessa transformação, por toda a parse.


Enche de estranhas vibrações sonoras
A tua Estrofe, majestosamente...
Põe nela todo o incêndio das auroras
Para torná-la emocional e ardente.


Derrama luz e cânticos e poemas
No verso e torna-o musical e doce
Como se o coração, nessas supremas
Estrofes, puro e diluído fosse.


Que as águias nobres do teu verve esvoacem
Alto, no Azul, por entre os sóis e as galas,
Cantem sonoras e cantando passem
Dos Anjos brancos através das alas...


E canta o amor, o sol, o mar e as rosas,
E da mulher a graça diamantina
E das altas colheitas luminosas
A lua, Juno branca e peregrine.


Vibra toda essa luz que do ar transborda
Toda essa luz nos versos vai vibrando
E na harpa do teu Sonho, corda a corda,
Deixa que as Ilusões passem cantando.


Na alma do artista, alma que trina e arrulha
Que adora e anseia, que deseja e que ama
Gera-se muita vez uma fagulha
Que se transforma numa grande chama.


Faz estrofes assim! E após na chama
Do amor, de fecundá-las e acendê-las,
Derrama em cima lágrimas, derrama,
Como as eflorescências das Estrelas...

Cruz e Sousa,O LIVRO DERRADEIRO-Dispersas

domingo, 6 de março de 2011

Carybé (1911-1997)






  Frequentador assíduo dos terreiros de candomblé baianos, embora dissesse não acreditar na vida após a morte, faleceu, no dia 1º de outubro de 1997, no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, depois de sofrer um enfarte. 

Herchcovitch e João Pimenta








Gustavo Domingues

30 de Janeiro de 2011, 2:11


Fala Sandro, beleza?
Cara, to pirando aqui na trilha do espetáculo, e sei que dei só uma olhada um dia e de pouco material existente.
Mas vou falar que esse tema e o que eu vi é fantástico!
Tem lá a dureza da morte e um bando de neguinho que tem que arcar com isso!!! Muito verdadeiro!
As pessoas carregam a morte dos outros nos ombros mesmo, talvez pela própria incapacidade de entender a própria morte.Por acaso vc está pensando em um duo de alguém dançando com o corpo morto??? Pq ia ser muito bom! Um duo quase balé clássico, com a sua visão, tipo o que vc fez pro Lago dos Cisnes.
To pensando numa trilha meio uníssona, quase uma nota só permeando o espetáculo inteiro. Um chiado irritante e lúgbre. E aí vou variando com outras coisas, mas sem perder esse conceito.
É claro q preciso ver o resto pra ver se encaixa. Não sei se vai haver uns picos de dança mais cadenciados.
Tá com quanto de tempo já?
Te ligo terça pra eu ir aí na quarta ou na quinta, ok?


abraço,
g.

sexta-feira, 4 de março de 2011

IDENTTITY

Conceito visual sobre a perda da identidde, por Jeffrey Wang.




Post: Alex Merino