sexta-feira, 6 de abril de 2012

O indiano que está com o braço levantado há 38 anos

Em 1973 um indiano do nada resolve levantar o braço e nunca mais abaixar. E ele cumpre. Este é o estranho resumo da vida de Sadhu Amar Bharati. Após todo este tempo com o braço para cima, o braço de Sadduh é apenas rígido e ereto pedaço de osso recoberto de pele. A unha dele cresceu tanto que virou uma espécie de espiral. Veja a foto:


Até 1970, Amar Bharati era um indiano de classe média, que vivia uma vida normal. Ele tinha um emprego, uma esposa, uma casa e três filhos para criar. Um belo dia ele acordou e…

“Pã! Este ser humano executou uma operação ilegal e será fechado.”

Deu tela azul no maluco, meu. Desde este dia ele se converteu a seguidor do Deus Indu Shiva e saiu vagando pela beira das estradas com quase nenhuma roupa. Durante três anos que vagou por lá se tornando uma espécie de faquir, Amar Bharati diz ter conseguido tamanho contato com o mundo espiritual, que conseguia se desvincular quase completamente desta dimensão de prazer e sofrimento que estamos presos. Para demonstrar o poder na fé em Shiva, ele resolveu nunca mais abaixar o braço. Hoje, mesmo que quisesse ele não seria capaz de baixar o braço.


Para você ter uma ideia do que é a força de vontade de um homem tomado pela fé, levante seu braço e veja o quão desesperador pode se tornar a dor de mantê-lo na vertical por muito tempo. O indiano diz que no início a dor era insuportável, mas ele não cedeu. Hoje seu braço já não dói mais. Os ossos calcificaram e ele já não consegue mais dobrar o cotovelo.

FONTE:

POST: Alex Merino

Experiência sensorial.

É sem nenhum ator em cena que o diretor Denis Marleau constrói o espetáculo Os Cegos. A partir de projeções, a montagem da companhia Ubu Theatre, de Montreal, reproduz no palco os rostos dos atores, elimina sua presença física, e coloca em pauta os próprios limites entre o que é e o que não é teatro. Sentado em cima do palco, na penumbra, o público deve acompanhar de perto a agonia de um grupo de 12 cegos. Perdidos em uma floresta, eles não sabem que seu guia está morto, caído no chão, e acreditam que ele ainda voltará para buscá-los.


A produção, que passou pelo Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto na semana passada, retoma em nova chave a fábula simbolista escrita por Maurice Maeterlinck, em 1889. Em entrevista ao Estado, o diretor canadense conta que não se preocupa em definir seu trabalho como teatro e defende que, sem a interposição da presença dos atores, o espectador estará ainda mais livre para se projetar e se reconhecer no texto.

Você define o espetáculo como uma fantasmagoria tecnológica. Por quê? Você acredita que o próprio espectador é imerso nessa experiência fantasmagórica?

Esse subtítulo evoca as experiências do físico belga Robertson, que inventou o fantascópio no fim do século 18: uma espécie de lanterna mágica que projetava figuras fantasmagóricas que se moviam dentro de criptas obscuras. Maurice Maeterlinck, que falava constantemente da recordação nas suas primeiras obras, interessava-se muito por esses jogos pré-ótica do cinema. Em suas anotações, esse aspecto era frequentemente mencionado. Eu queria fazer justamente um jogo entre essa noção ilusionista e as novas tecnologias de hoje.

Como e por que você pensou em montar o texto dessa maneira, a partir de projeções? Você acredita que esse formato materializa, de certa maneira, a própria concepção simbolista de Maeterlinck?

Maeterlinck joga com sensações sutis e abre questões metafísicas sem solução. Além disso, implicitamente, ele põe em pauta a questão da representação: como mostrar em cena a espera existencial desses 12 cegos em uma floresta escura? O simbolismo de Maeterlinck coloca coisas muito concretas, baseadas em uma verdadeira humanidade, em uma espécie de privação da alma.

Você acredita que a experiência do teatro se mantenha mesmo sem a presença de atores em cena? Onde lhe parece estar essa fronteira entre o que é e o que não é teatro? Quais são as questões instauradas pela ausência de atores em cena?

Criei esse espetáculo no museu de arte contemporânea de Montreal. Nunca me perguntei se isso era teatro ou não. Tentei inventar uma forma que iria colocar em órbita toda a forma poética do texto, a voz mais próxima de seus abismos, suas sensações. Essa experiência me fez refletir sobre essa graça que pode se operar mesmo sem a presença do ator e que ainda assim não é cinema. Existe um verdadeiro encontro do espectador com uma dramaturgia, uma poética e um tipo de presença que se refere a ele mesmo, a sua própria posição, a sua solidão.

FONTE:

Post: Alex Merino