terça-feira, 29 de janeiro de 2013

As radiações invisíveis e o poder da comunhão direta


[...] É uma espécie de lei: os clichês ocupam os espaços vazios, da mesma forma como as ervas daninhas ocupam os terrenos. Um gesto que for feito apenas por fazê-lo é um ato de força perpetrado contra nossos sentimentos interiores e sua manifestação natural.

Os hábitos mecânicos de um corpo exercitado, e de seus músculos, são muito fortes e teimosos. São como um escravos disposto porém estúpido, que muitas vezes é mais perigoso que um inimigo. Adquirimos os métodos exteriores e os artificialismos mecânicos com uma rapidez extraordinária, e os guardamos por muito tempo. Afinal, a memória muscular de um ser humano, sobretudo a de um ator, é extremamente desenvolvida; enquanto sua memória afetiva, com a lembrança das sensações, das experiências emocionais, é, ao contrário, extremamente frágil.

Ai do ator se houver um fosso entre seu corpo e sua alma, entre sua atividade interior e seus movimentos externos. Ai dele se seu instrumento corpóreo falsifica seus sentimentos, desvia-os da tonalidade certa. É o que ocorre com uma melodia tocada em instrumento desafinado. E quanto mais sincero for o sentimento, mais dolorosa será a discordância.

[...]

A capacidade de manter nosso corpo completamente a serviço dos nossos sentimentos é uma das preocupações primordiais da técnica externa de encarnação de um papel. Há, entretanto, muitos sentimentos incomunicáveis, superconscientes, invisíveis, que nem o equipamento físico mais perfeito pode transmitir. São passados diretamente de alma para alma. As pessoas comungam umas com as outras por meio de correntes interiores invisíveis, radiações de seu espírito, compulsões da sua vontade. Estas têm, no palco, um efeito direto, imediato, poderoso, e transmitem coisas que nem as palavras nem os gestos são capazes de transmitir. A pessoa vive um estado emocional e pode fazer com que outras, com as quais está em comunhão, o vivam também.

Um grande e inveterado erro dos atores é suporem que, na vasta expansão do edifício do teatro, só tem qualidade cênica o que é visível e audível para o público. Mas será que o teatro existe para atender somente aos olhos e ouvidos do público? Será que tudo o que passa pela nossa alma só se presta às palavras, aos sons, aos gestos e aos movimentos?

A irresistibilidade, a contagiosidade e o poder da comunhão direta por meio de radiações invisíveis da vontade e dos sentimentos humanos são grandes. Esse poder é usado para hipnotizar as pessoas, domar animais selvagens ou multidões enfurecidas. Os faquires fazem morrer as pessoas e as ressuscitam. E os atores podem encher grandes auditórios com as radiações invisíveis de suas emoções.

FONTE: A Criação de Um Papel, de Constantin Stanislavski - capítulo III, O período da encarnação física, paginas 127 e 130

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Tapocrifação


São Vital de Milão foi enterrado vivo.

Enterro prematuro, enterro vivo, funeral vivo ou tapocrifação significa ser enterrado ainda vivo. Isso pode acontecer intencionalmente como uma forma de tortura, assassínio ou método de execução, mas também pode acontecer com o consentimento da vítima com o objetivo de escapar ou como forma de suicídio. A vítima também pode ser enterrada viva por engano, ao supor-se que está morta quando não o está. Diz-se que o medo de ser enterrado vivo é um dos mais comuns medos humanos.

Na Antiguidade
A história antiga relata vários casos de pessoas enterradas vivas, como forma de castigo.

Segundo Heródoto, uma das evidências de que Cambises tinha ficado louco foi que ele mandou enterrar vivos, e de cabeça para baixo, doze nobres persas, sem nenhum motivo razoável. Segundo Ctésias de Cnido, Apolonides de Cos, médico e amante da rainha Amitis, viúva de Megabizo, foi enterrado vivo no dia em que Amitis morreu.

Este era o castigo para as virgens vestais que violavam o voto de castidade. Opilia, no início da República Romana e Sextília, na época das Guerras Pírricas, foram enterradas vivas por adultério.

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tapocrifação

The Raven (O CORVO) - Edgar Allan Poe

Numa sombria madrugada, enquanto eu meditava, fraco e cansado, sobre um estranho e curioso volume de folclore esquecido; enquanto cochilava, já quase dormindo, de repente ouvi um ruído. O som de alguém levemente batendo, batendo na porta do meu quarto. "Uma visita," disse a mim mesmo, "está batendo na porta do meu quarto - É só isto e nada mais."

Ah, que eu bem disso me lembro, foi no triste mês de dezembro, e que cada distinta brasa ao morrer, lançava sua alma sobre o chão. Eu ansiava pela manhã. Buscava encontrar nos livros, em vão, o fim da minha dor - dor pela ausente Leonor - pela donzela radiante e rara que chamam os anjos de Leonor - cujo nome aqui não se ouvirá nunca mais.

E o sedoso, triste e incerto sussurro de cada cortina púrpura me emocionava - me enchia de um terror fantástico que eu nunca havia antes sentido. E buscando atenuar as batidas do meu coração, eu só repetia: "É apenas uma visita que pede entrada na porta do meu quarto - Uma visita tardia pede entrada na porta do meu quarto; - É só isto, só isto, e nada mais."

Mas depois minha alma ficou mais forte, e não mais hesitando falei: "Senhor", disse, "ou Senhora, vos imploro sincero vosso perdão. Mas o fato é que eu dormia, quando tão gentilmente chegastes batendo; e tão suavemente chegastes batendo, batendo na porta do meu quarto, que eu não estava certo de vos ter ouvido". Depois, abri a porta do quarto. Nada. Só havia noite e nada mais.

Encarei as profundezas daquelas trevas, e permaneci pensando, temendo, duvidando, sonhando sonhos mortal algum ousara antes sonhar. Mas o silêncio era inquebrável, e a paz era imóvel e profunda; e a única palavra dita foi a palavra sussurrada, "Leonor!". Fui eu quem a disse, e um eco murmurou de volta a palavra "Leonor!". Somente isto e nada mais.

De volta, ao quarto me volvendo, toda minh'alma dentro de mim ardendo, outra vez ouvi uma batida um pouco mais forte que a anterior. "Certamente," disse eu, "certamente tem alguma coisa na minha janela! Vamos ver o que está nela, para resolver este mistério. Possa meu coração parar por um instante, para que este mistério eu possa explorar. Deve ser o vento e nada mais!"

Abri toda a janela. E então, com uma piscadela, lá entrou esvoaçante um nobre Corvo dos santos dias de tempos ancestrais. Não pediu nenhuma licença; por nenhum minuto parou ou ficou; mas com jeito de lorde ou dama, pousou sobre a porta do meu quarto. Sobre um busto de Palas empoleirou-se sobre a porta do meu quarto. Pousou, sentou, e nada mais.

Depois essa ave negra, seduzindo meu triste semblante, acabou por me fazer sorrir, pelo sério e severo decoro da expressão por ela mostrada. "Embora seja raspada e aparada a tua crista," disse eu, "tu, covarde não és nada. Ó velho e macabro Corvo vagando pela orla das trevas! Dize-me qual é teu nobre nome na orla das trevas infernais!".

E o Corvo disse: "Nunca mais."

Muito eu admirei esta ave infausta por ouvir um discurso tão atenta, apesar de sua resposta de pouco sentido, que pouca relevância sustenta. Pois não podemos deixar de concordar, que ser humano algum vivente, fora alguma vez abençoado com a vista de uma ave sobre a porta do seu quarto; ave ou besta sobre um busto esculpido, sobre a porta do seu quarto, tendo um nome como "Nunca mais."

Mas o corvo, sentado sozinho no busto plácido, disse apenas aquela única palavra, como se naquela única palavra sua alma se derramasse. Depois, ele nada mais falou, nem uma pena ele moveu, até que eu pouco mais que murmurei: "Outros amigos têm me deixado. Amanhã ele irá me deixar, como minhas esperanças têm me deixado."

Então a ave disse "Nunca mais."

Impressionado pelo silêncio quebrado por resposta tão precisa, "Sem dúvida," disse eu, "o que ele diz são só palavras que guardou; que aprendeu de algum dono infeliz perseguido pela Desgraça sem perdão. Ela o seguiu com pressa e com tanta pressa até que sua canção ganhou um refrão; até ecoar os lamentos da sua Esperança que tinha como refrão a frase melancólica 'Nunca - nunca mais.' "

Mas o Corvo ainda seduzia minha alma triste e me fazia sorrir. Logo uma cadeira acolchoada empurrei diante de ave, busto e porta. Depois, deitado sobre o veludo que afundava, eu me entreguei a interligar fantasia a fantasia, pensando no que esta agourenta ave de outrora, no que esta hostil, infausta, horrenda, sinistra e agourenta ave de outrora quis dizer, ao gritar, "Nunca mais."

Concentrado me sentei para isto adivinhar, mas sem uma sílaba expressar à ave cujos olhos ígneos no centro do meu peito estavam a queimar. Isto e mais eu sentei a especular, com minha cabeça descansada a reclinar, no roxo forro de veludo da cadeira que a luz da lâmpada contemplava, mas cujo roxo forro de veludo que a lâmpada estava a contemplar ela não iria mais apertar, ah, nunca mais!

Então, me pareceu o ar ficar mais denso, perfumado por invisível incensário, agitado por Serafim cujas pegadas ressoavam no chão macio. "Maldito," eu gritei, "teu Deus te guiou e por estes anjos te enviou. Descansa! Descansa e apaga o pesar de tuas memórias de Leonor. Bebe, oh bebe este bom nepenthes e esquece a minha perdida Leonor!"

E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Profeta!" disse eu, "coisa do mal! - profeta ainda, se ave ou diabo! - Tenhas sido enviado pelo Tentador, tenhas vindo com a tempestade; desolado porém indomável, nesta terra deserta encantado, neste lar pelo Horror assombrado, dize-me sincero, eu imploro. Há ou não - há ou não bálsamo em Gileade? - dize-me - dize-me, eu imploro!"

E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Profeta!" disse eu, "coisa do mal! - profeta ainda, se ave ou diabo! Pelo Céu que sobre nós se inclina, pelo Deus que ambos adoramos, dize a esta alma de mágoa carregada que, antes do distante Éden, ela abraçará aquela santa donzela que os anjos chamam de Leonor; que abraçará aquela rara e radiante donzela que os anjos chamam Leonor."

E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Que essa palavra nos aparte, ave ou inimiga!" eu gritei, levantando - "Volta para a tua tempestade e para a orla das trevas infernais! Não deixa pena alguma como lembrança dessa mentira que tua alma aqui falou! Deixa minha solidão inteira! - sai já desse busto sobre minha porta! Tira teu bico do meu coração, e tira tua sombra da minha porta!"

E o Corvo disse: "Nunca mais."

E o Corvo, sem sequer se bulir, se senta imóvel, se senta ainda, sobre o pálido busto de Palas que há sobre a porta do meu quarto. E seus olhos têm toda a dor dos olhos de um demônio que sonha; e a luz da lâmpada que o ilumina, projeta a sua sombra sobre o chão. E minh'alma, daquela sombra que jaz a flutuar no chão, levantar-se-á - nunca mais!

FONTE: http://www.helderdarocha.com.br/literatura/poe/prosa1.html

Edgar Allan Poe

"Me tornei louco, com longos períodos de horrível sanidade" (Edgar Allan Poe)




Edgar Allan Poe foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, fez parte do movimento romântico americano. Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores americanos de contos e é considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por contribuição ao emergente gênero de ficção científica. Foi o primeiro escritor americano conhecido a tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difícil.

As obras mais conhecidas de Poe são Góticas, um gênero que ele seguiu para satisfazer o gosto do público. Seus temas mais recorrentes lidam com questões da morte, incluindo sinais físicos dela, os efeitos da decomposição, interesses por tapocrifação, a reanimação dos mortos e o luto. Muitas das suas obras são geralmente consideradas partes do gênero do romantismo negro, uma reação literária ao transcendentalismo, do qual Poe fortemente não gostava.

Diferentemente da maioria dos autores de contos de terror, Poe usa uma espécie de terror psicológico em suas obras, seus personagens oscilam entre a lucidez e a loucura, quase sempre cometendo atos infames ou sofrendo de alguma doença. Seus contos são sempre narrados na primeira pessoa.

Além do horror, Poe também escreveu sátiras, contos de humor e hoaxes. Para efeito cômico, ele usou a ironia e a extravagância do rídiculo, muitas vezes na tentativa de liberar o leitor da conformidade cultural. De fato, "Metzengerstein", a primeira história que Poe publicou, e sua primeira incursão em terror, foi originalmente concebida como uma paródia satirizando o gênero popular. Poe também reinventou a ficção científica, respondendo na sua escrita às tecnologias emergentes como balões de ar quente em "The Balloon-Hoax".

A escrita de Poe reflete suas teorias literárias, que ele apresentou em sua crítica e também em peças literárias como "The Poetic Principle".

Ele não gostava de didaticismo e alegoria, pois acreditava que os significados na literatura deveriam ser uma subcorrente sob a superfície. Trabalhos com significados óbvios, ele escreveu, deixam de ser arte. Acreditava que o trabalho de qualidade deveria ser breve e concentrar-se em um efeito específico e único. Para isso, acreditava que o escritor deveria calcular cuidadosamente todos sentimentos e ideias.

Em "The Philosophy of Composition", uma peça na qual Poe descreve seu método de escrita em "The Raven", ele afirma ter seguido estritamente este método. Porém, foi questionado se ele realmente seguiu esse sistema.

T. S. Eliot disse: "É difícil para nós lermos esta peça sem pensar se Poe escreveu seu poema com tanto cálculo, ele poderia ter pego um pouco mais de dores sobre isto: o resultado dificilmente tem crédito ao método". O biógrafo Joseph Wood Krutch descreveu a peça como "um exercício um tanto engenhoso na arte de racionalização".

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Allan_Poe

sábado, 19 de janeiro de 2013

Muito Além do Cidadão Kane

O Filme proibido sobre a Rede Globo produzido pela BBC

UM POUCO DA HISTÓRIA SECRETA
Um super investimento do governo militar em telecomunicação da suporte para que nasça uma das maiores rede de tv do mundo. ( Pão e circo ao povo) futebol, novela, carnaval transmitidos ao Brasil e a saúde e educação abandonados mas o povo sob total controle da REDE GLOBO ... que em troca transmitia apenas o que era conveniente ao's' governo's'...AI5, Seqüestro do embaixador americano, bombardeio do teatro, assassinato de jornalista isso tudo era proibido de ser passado em meios de comunicação, porém a REDE GLOBO foi muito além do que era solicitado. Tancredo Neves ganha as eleições e logo anuncia Antonio Carlos Magalhães como ministro das telecomunicações porém, morre antes de assumir a presidência. Sarnei assume e mantém Antonio Carlos Magalhães como ministro das telecomunicações..... Antonio Carlos Magalhães cancela contrato com a NEC do Brasil que passa a valer muito pouco e logo é comprada pela REDE GLOBO após a compra Antonio Carlo Magalhães volta os contratos com a NEC do Brasil com Governo Federal com isso a REDE GLOBO ganha 350 Milhões rapidamente. Em troca Antonio Carlos Magalhães ganha algumas concessões da Rede Globo na Bahia , o Presidente Sarnei dá 90 concessões de TV em seu mandato Só o Presidente Sarnei ganha 2 afiliadas da Rede Globo. Desde então nenhuma concessão foi dada.


Algumas Declarações contidas no Documentário:

Chico Buarque (A tv globo proibia pessoas de existir, ela tornava pessoas em não pessoas... ela ia muito além do que era solicitada)

Washington Olivetto ( O Brasil as vezes deixa de falar português e passa a falar TV Globes.)

A Palavra do Presidente ( Que os ricos sejam mais ricos para que os pobre por sua vez sejam menos pobres.) 

A Palavra do Presidente ( Quando vejo o mundo ele está terrível, mas quando vejo o brasil na TEVÊ GLOBO tudo está uma maravilha)

Luiz Inacio Lula da Silva (a globo só mente ... ela só informa sobre interesses patronais...) 

Armando Nogueira, fala diretamente ao dono da empresa Globo (Dr Roberto eu não vi esse compacto, se tivesse visto eu teria impedido que ele fosse ao ar, ..... a REDE GLOBO foi infeliz e fez uma edição burra... - Se referindo ao debate para presidente Collor x Lula) imediatamente após a reclamação Armando Nogueira, chefe de jornalismo da Rede Globo há 22 anos, foi aposentado e substituído pelo editor do debate.

FONTE: http://www.documentarios.org/video/detalhar/49/muito_alem_do_cidadao_kane/



Maiores informações no Wikipedia.org (clique aqui)

Kafka foi um profeta....


Livro define "BBB" e outros reality shows como ritos de tortura
Carlos Minuano Do UOL, em São Paulo, 19/01/2013


"BBB13" começou com prova de resistência. Dhomini e Nasser, que venceu a prova, ficaram 15 horas em pé com as mãos em um carro
  • "BBB13" começou com prova de resistência. Dhomini e Nasser, que venceu a prova, ficaram 15 horas em pé com as mãos em um carro
Uma mulher desperta em um quarto com um aparelho em sua cabeça que, se não desarmado a tempo, se abrirá, rompendo sua mandíbula e vergando seu crânio ao avesso; ao seu lado um homem desmaiado. Em um monitor de TV, uma voz lança o desafio: com um bisturi ela deveria abrir o ventre de seu companheiro de clausura e lá procurar a chave que desarma o aparelho.
A cena descrita é da série de filmes de terror "Jogos Mortais", mas para a socióloga Silvia Viana, professora de sociologia na Fundação Getúlio Vargas (FGV), o roteiro se encaixa ao formato dos reality shows, como o "Big Brother Brasil", da Rede Globo, no ar há 13 anos. Em seu livro, que acaba de ser lançado, "Rituais de Sofrimento"(editora Boitempo, 192 págs., R$ 37), ela define o programa como um rito de tortura.
A comparação entre o filme "Jogos Mortais" e o "BBB" não foi feita pela pesquisadora, mas por um participante do reality show, em meio a uma prova de resistência. Ele estava chamando a atenção para a tortura a qual estavam sendo submetidos naquele instante. Mas, as semelhanças não se encerram aí. Segundo a socióloga, são muitas.
  • No "BBB9", Leonardo não resistiu ao Quarto Branco e pediu para sair do programa
Dividido em quatro partes, "Show de horror", "Das regras", "Dos jogadores" e "Das provas", o livro é resultado de uma pesquisa de doutorado de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP). A autora conta que a pesquisa teve início quando se debruçava sobre outro estudo, de gestão da empresa capitalista flexível. "Na metade do processo, assisti, pela primeira vez, a um reality show", diz. Era um episódio do ‘BBB’ no qual três participantes foram levados ao "Quarto Branco". "Uma forma indisfarçada de tortura por privação de sentidos", comenta.
Naquele momento, ela teve o insight que levou ao tema do livro. "Percebi não apenas a violência levada a cabo pelo programa, mas também sua afinidade com a brutalidade do mundo atual e do trabalho nos dias de hoje", diz. Para a socióloga, é esse o ponto mais relevante da questão: entender a aproximação entre a vida real e o mundo reproduzido em programas de TV, em especial os reality shows.
O mais bizarro é o normal
O mais estranho, diz a socióloga, é justamente que a "bizarrice" é o normal. "Isso é tanto nos reality shows como do outro lado da tela". Não é à toa que o mentor do projeto tenha sido o célebre Franz Kafka, que retrata em sua obra o desespero do ser humano, atordoado frente aos pesadelos labirínticos da existência e do mundo cotidiano, impessoal e burocrático – um texto do escritor tcheco abre o primeiro capítulo.
  • Renatinha atende o Big Fone no "BBB12"
Uma imagem que, para a socióloga, resume o absurdo generalizado dos reality shows é o "Big Fone". "Uma voz de comando distorcida transmite aos participantes ordens malucas e cheias de exceções, punições adicionais, obrigatoriedade de sigilo até determinado momento, colares disso e daquilo".
E quanto mais escorregadios os comandos, maior o zelo em seu cumprimento, prossegue a pesquisadora. "Não importa que a ordem seja sair da casa vestido de galinha e cacarejar assim que um sino tocar, e não importa que os participantes tenham plena consciência de que se trata de uma situação ridícula e humilhante: o comando será cumprido à risca".
"O mesmo não ocorre em processos seletivos de empresas?", questiona. "Nunca se sabe exatamente o que o empregador busca com aqueles testes de caligrafia, dinâmicas de grupo, perguntas a respeito de seus hobbies, provas das mais esdrúxulas, mas é fundamental que se faça, seja lá o que for, seja lá como for".  
Em sua pesquisa, a socióloga mergulha nessa "zona cinzenta" assombrosa, em que os papéis de vítimas e violentadores não estão claramente definidos. Uma pergunta inevitável é: o que leva uma pessoa a se sujeitar aos ‘rituais de dor e sacrifício’ dos reality shows? A explicação mais comum é de que as pessoas topam participar pelo prêmio, pela fama ou por exibicionismo, de que participantes agem por pura racionalidade instrumental, enquanto outros são levados por um desejo inconsciente. Silvia recusa ambos.

Para ela, o buraco é ainda mais embaixo. "Não se pode afirmar que prêmio e fama justifiquem a participação: as chances de ganhar o prêmio são pequenas e o sofrimento a que serão submetidos é desproporcional ao ganho". "Quanto à fama, já é pública e notória a pecha que carrega um ex-BBB, com raríssimas exceções (que confirmam a regra), os participantes de reality shows são relegados ao esquecimento".
Não se pode afirmar que prêmio e fama justifiquem a participação: as chances de ganhar o prêmio são pequenas e o sofrimento a que serão submetidos é desproporcional ao ganho. Quanto à fama, já é pública e notória a pecha que carrega um ‘ex-BBB’, com raríssimas exceções (que confirmam a regra), os participantes de reality shows são relegados ao esquecimento
Silvia Viana, socióloga, autora de "Rituais de Sofrimento"
Silvia avalia que afirmar que os participantes são levados pelo desejo de exibição seria desconsiderar todo o sofrimento pelo qual passam. "Eles não estão lá gozando, nem mesmo por alguma perversão masoquista. Seu sofrimento é próprio de quem tem alguma tarefa a cumprir, é próprio do trabalho".
Oportunidade imperdível ou lixo descartável?
A pesquisa por trás do livro se propõe à tarefa nada simples de entender o fenômeno dos reality shows, afinal por que tantos querem participar do programa televisivo. Silvia arrisca um caminho. "Temos que levar em consideração aquilo o que os próprios participantes afirmam a respeito de seu voluntariado: trata-se de uma ‘oportunidade imperdível’. Mas oportunidade para quê?", indaga. Os critérios para alcançar o prêmio, segundo ela, são imponderáveis, e a fama resultante é infâmia. Ou seja, não faz sentido.

PEGADINHA

Silvia abre o livro com uma "pegadinha" do "Pânico na TV", cujo alvo são os próprios funcionários do programa de humor. "Nesse caso, a equipe, que acabara de voltar de uma longa e exaustiva viagem, foi obrigada a rodar por horas, sem destino, enquanto um colega de trabalho foi incumbido de fazer piadas da situação na qual se encontravam". O caso em questão avançou até um determinado momento em que o comediante, que sabia estar cometendo uma violência contra seus colegas, deixou claro que, também ele, estava sofrendo com a situação e que só estava fazendo aquilo porque estava lá a trabalho. "Essa cena condensa inúmeras questões que devemos nos fazer: em primeiro lugar, qual o propósito dessa violência, cujo termo "brincadeira" não chega a esconder? Em segundo lugar, porque as pessoas envolvidas permaneceram no carro ao invés de simplesmente pegar um táxi e ir para casa?", analisa a autora. Contudo, o mais perturbador, na opinião da socióloga, é o fato do trabalho sujo estar nas mãos do companheiro de trabalho. "Em nenhum momento a produção foi questionada".
"O problema da participação é precisamente o fato dela não apresentar nenhum por que, não tem sentido social, por mais que caibam aí inúmeras racionalizações individuais", analisa. De acordo com o estudo, as pessoas participam porque se tornou um imperativo em nossa sociedade, "completamente desprovido de conteúdo", reitera a autora. "Por isso eu não comparo os reality shows a rituais, eles são rituais", afirma.
Reality show é "mercadoria de quinta categoria", diz Silvia. "Os próprios produtores não fazem questão alguma de disfarçar a baixa qualidade estética, informativa, cultural ou o que mais pudesse justificar sua existência", completa. Para ela, nem mesmo o público que acompanha os programas defende alguma possível qualidade. "Ninguém sustentaria que aquilo é algo mais que lixo descartável".
A crítica fundamental, e corrosiva, em "Rituais de Sofrimento" é de que assim como os participantes, os telespectadores assistem (e também participam, o que é fundamental) cientes de que não há nisso qualquer sentido ou finalidade. "Simplesmente respondem ao comando, que obriga a ‘estar no mundo’, ‘topar’, ‘participar’", diz.
Quanto à teoria de que o público é ingênuo, manipulável, iludido ou perverso, para a pesquisadora, nada disso explica o fenômeno, apenas indica a arrogância de quem a faz. "Todos estamos submetidos ao imperativo vazio da participação. Assim como aqueles que votam para a eliminação no BBB trabalham de graça para a Globo, aqueles que enviam seus vídeos para o You tube ou postam comentários no Facebook trabalham de graça para essas corporações. Sabemos disso e, mesmo assim, fazemos. Nossa ilusão reside na prática, não nas consciências. Nosso mundo é bizarro", arremata.

FONTE: http://televisao.uol.com.br/bbb/bbb13/noticias/redacao/2013/01/19/livro-define-bbb-e-outros-reality-shows-como-ritos-de-tortura.htm

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Cidadão Boilesen

SÃO PAULO - Há 18 anos - em 1991 -, Chaim Litewski ingressou na ONU, o que o faz hoje viver em Nova York. Em novembro de 2009 ele voltou ao Brasil - e a São Paulo - para participar de um debate sobre seu documentário Cidadão Boilesen, que estreou nos cinemas dia 27 de novembro do mesmo ano. Cidadão Boilesen foi premiado no Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, esteve no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo. Sempre aplaudido pelo público e pela crítica, levanta o véu sobre a Operação Bandeirantes.


http://youtu.be/9TrocKiappo

A Oban, como era chamada, foi um centro de informações, investigações e de torturas montado pelo Exército brasileiro no fim dos anos 1960 para combater organizações de esquerda que confrontavam o regime ditatorial que vigorava desde 1964 no País. O filme deixa claro que era financiada por empresários e banqueiros. O caso de Henning Boilesen, o cidadão Boilesen, é exemplar. Dinamarquês naturalizado brasileiro, ele virou empresário no País. Anticomunista ferrenho, ligou-se a grupos militares e paramilitares. Outros empresários e banqueiros - nomeados no filme - também fizeram isso, mas Boilesen se destacava por uma particularidade fartamente debatida no filme. Sádico, ele tinha um prazer especial em seguir as sessões de tortura, chegando a fornecer carros da empresa Ultragaz, do grupo Ulbra, que presidia, para operações de repressão. Em 1971, foi vítima de uma emboscada e morto por guerrilheiros.

Um dos entrevistados, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, faz uma bela análise sociológica do episódio. Guerrilheiros fazem acusações a Boilesen, mas seus familiares - o filho, em particular - contestam que fosse o monstro sugerido em Cidadão Boilesen. Entretanto, os indícios são muitos e confirmados por outros notórios personagens ligados à Oban, incluindo o célebre Coronel Erasmo Dias. No debate que antecedeu a estreia do filme, Litewski lembrou que foi em 1968 que ouviu pela primeira vez, na televisão, o nome de Boilesen ligado a grupos militares. Após a morte do empresário, ele nunca deixou de pensar no assunto, mas só começou a encarar a possibilidade de realização de um filme a partir do depoimento que colheu do ex-guerrilheiro Carlos Eugênio da Paz. "Só aí foi que eu realmente me conscientizei de que tinha material para uma obra consistente."

Mesmo assim, foram mais de 15 anos de pesquisa, que se concluíram em sua estreia. Litewski elaborou uma lista de 200 possíveis entrevistados. Um terço lhe bateu o telefone na cara, tão logo ele anunciava sua intenção. Outro terço admitia dar depoimento, sem que fosse gravado ou filmado, certamente temendo represálias. O terço final, finalmente, deu a cara e a voz às denúncias formuladas no filme. Elas de alguma forma corrigem a história oficial. Mostram que a famigerada ditadura foi, na verdade, uma aliança civil-militar, incentivada e sustentada por setores de peso na sociedade, e não apenas empresários da Fiesp ou banqueiros da Febraban. Nem a imprensa é poupada. Litewski, que se autodefine como ‘rato de pesquisa’, só cita empresários e organizações que tenham sido mencionados por no mínimo três fontes diferentes.

Formado em comunicação, propaganda e cinema, Chaim Litewski especializou-se em filmar, documentar e discutir conflitos. Ele admite que tem uma relação de fascinação e ódio pela violência. Este documentário, feito ao longo de tanto tempo, o levou até a Dinamarca, em busca das origens de Henning Boilesen. Lá ele ouviu um depoimento muito interessante, que está no filme - o empresário, que teve uma origem humilde, tinha um lado sombrio muito forte na sua personalidade. Criança, teve um prazer tão grande em observar a punição de colegas da escola que o caso foi suficientemente inusitado para merecer a observação de um dos professores, acrescentada à ficha escolar. Na Dinamarca, a própria cultura local talvez lhe impusesse manter essas tendências perversas reprimidas. No Brasil da ditadura civil/militar, em contato com figuras como o sinistro delegado Sérgio Paranhos Fleury, essas tendências não apenas afloraram como foram liberadas.

Litewski conta que, durante muito tempo, somente conseguiu tocar o projeto de Cidadão Boilesen nas horas vagas. Ele trabalhava regularmente, nas suas funções habituais, e às 17 horas, 18 horas ficava liberado para se debruçar sobre os penosos acontecimentos que o documentário registra (e analisa). A verba sempre foi curta - ele só conseguiu finalizar Cidadão Boilesen após a premiação no É Tudo Verdade. Na Dinamarca, quase conseguiu uma parceria, mas os dinamarqueses impunham certas condições e elas se referiam principalmente ao tom do filme, ao enfoque da direção. Queriam o filme compassivo, indignado, com ênfase nas cordas do cello - pegando carona na metáfora musical, já que o ex-guerrilheiro Carlos Eugênio é hoje músico. Litewski queria incorporar música brejeira, fazer sátira, num estilo mais brechtiano.

É o que faz a diferença em Cidadão Boilesen, e o diretor sabe disso. Litewski e o produtor Pedro Asbeg sabem que estão contribuindo para que uma parte triste da história do Brasil seja resgatada e debatida. O que mostram não é agradável, mas necessário. Na pesquisa, foram reunidos muito mais documentos e depoimentos. Todo esse material precisa agora ser divulgado no site do filme ou em DVD, quando sair.

FONTE: estadao.com.br


http://youtu.be/cFEkY1b7yHM

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Quem são os carrascos?


Seria ridículo se alguem pudesse ver, olhar por uma fresta  na parede, ou pelo burrado da janela a imagem que eu me fiz.È exatamente essa a frase: "que eu me fiz", sons confusos, acuada no chão do meu quarto eu tento não gritar, as lagrimas escorrem de meus olhos como vazamento sem controle, não há válvula pra fechar, é tão forte o impulso do descontrole, que meu nariz começa a gotejar um liquido meio viscoso, a respiração fica alta rasgando o silencio da casa vazia, aperto meu rosto, minhas mãos esmagam meus olhos, batem na minha cabeça, tremem diante de meus olhos, não enxergo nada, me vejo em desespero completo, me torturando por não saber o que fazer, eu não sei o que fazer.Tenho tudo e não consigo sair do lugar, sinto como se meu peito estivesse sendo comprimido por um bloco de metal que me achata no chão, a cabeça começa a pedir ar, puxo o ar como numa alavanca de ar comprimido, entra com tudo começo a tossir, não consigo me mexer, abro os dedos das mãos ao máximo, não sei porque, me encolho como um feto, um feto que parece que vai morrer, sem ar, em desespero, que não sabe o que está acontecendo, que só sente um pulsar forte dentro dele e não consegue diminuir,gritos estranhos saem da minha boca, nem sei o que são, parecem riscos com um garfo numa parede ou peça de metal, são fundos, saem rasgando meus próprios ouvidos.Não sei o que fazer, não sei o que fazer, porque nos torturamos tanto?Por que nossa existência se torna tão patética quando não conseguimos aguentar nossas próprias almas?Sinto me golpeada, como se cavalos correndo me esmagassem a ponto de me destroçar. A imobilidade me sufoca.
Não penso em aparelhos de torturas mais geniais que nossa própria consciência, nossa mente, nossas sensações e criações internas. Na "Colonia Penal " de Franz Kafka me vejo como cada um de seus personagens, não somos apenas um de seus personagens, somos todos, incluindo a engrenagem. Somos carrascos de nós mesmo, pelo menos uma vez em nossa vida seremos nossos próprios juizes.E pelo que? Pelo que você se tortura ou se deixa torturar?

domingo, 6 de janeiro de 2013

NAMASTÊ


Para pensar antes de entrar em cena...


"O divino em mim cumprimenta o divino em você."

"A Divinidade dentro de mim compreende e adora a Divinidade dentro de você."

"Tudo que é melhor e mais superior em mim cumprimenta/saúda tudo que é melhor e mais alto em você"

"Eu honro o Espírito em você que também está em mim."

"Seu espírito e meu espírito são um."

"Eu honro o local em você em que o Universo inteiro reside, eu honro o lugar em você que é de Amor, de Integridade, de Sabedoria e de Paz. Quando você está neste lugar em você, e eu estou neste lugar em mim, nós somos um."


sábado, 5 de janeiro de 2013

Mini Manual do Guerrilheiro Urbano"

De autoria do guerrilheiro Carlos Marighella, o livro foi escrito em 1969, para servir de orientação aos movimentos revolucionários e guerrilheiros. Nesta obra, detalhou táticas de guerrilha urbana a serem empregadas nas lutas. Nos anos 80, a CIA – Central Inteligence Agency, dos Estados Unidos, fez traduções em inglês e espanhol para distribuir entre os serviços de inteligência do  mundo inteiro e para servir como material didático na Escola das Américas, por ela mantida, no Panamá.


PARA LER NA INTERNET
http://www.marxists.org/portugues/marighella/1969/manual/index.htm

EM PDF PARA IMPRIMIR
http://brasil.indymedia.org/media/2008/06/422822.pdf

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Retrato Falado do Guerrilheiro

Documentário de Silvio Tendler narra a história do guerrilheiro baiano Carlos Marighella.


Quando questionado sobre quem ele era, Carlos Marighella respondia que era apenas um mulato baiano. Mas o documentário Marighella, Retrato Falado do Guerrilheiro, dirigido por Silvio Tendler, mostra muito mais que um mulato baiano ao traçar um panorama da vida desse homem polêmico e militante comunista, que foi um dos líderes da luta armada contra a ditadura militar no Brasil. 

Com narração do ator Othon Bastos, o documentário é guiado por depoimentos de pessoas que conviveram com Marighella e o ajudaram em suas lutas. A produção é pontuada por imagens de arquivo de fatos históricos e gravações de falas desse que foi um dos principais líderes políticos do Partido Comunista. 

Nascido em 5 de dezembro de 1911, em Salvador – BA, Marighella cursou engenharia, mas não concluiu o curso, preferiu se dedicar ao serviço militar. Sua viúva, Clara Charf, o define como poeta, estudioso, rebelde, brincalhão, duro e coerente. Para o advogado Takao Amano, Marighella representa uma síntese de todo processo de luta. "Desde a luta contra o colonialismo, depois os negros, os índios e a classe operária", explica. 
  
O documentário aborda a adesão de Marighella ao Partido Comunista em 1932; a sua prisão e tortura em maio de 1936, devido ao fracasso da insurreição comunista ocorrida em novembro de 1935; a legalidade, por pouco tempo, do Partido Comunista após a queda da ditadura de Getúlio Vargas e o fim do Estado Novo; a eleição de Marighella para deputado constituinte em 1946; e o seu retorno à clandestinidade logo depois que o Partido Comunista foi cassado. 
  
O documentário relembra o choro de Marighella ao saber dos crimes cometidos pelo governo de Josef Stalin, na Rússia, considerado por ele como um exemplo para todos do Partido Comunista. Após a instauração do regime ditatorial no Brasil, em 1964, Marighella é preso, reage e é atingido com um tiro no peito.  Sobrevive e, ao ser libertado, denuncia a violência sofrida aos jornais, e escreve o livro Porque Resisti à Prisão, pregando a resistência à ditadura militar. 
  
A produção recorda as lutas de independência ocorridas nos anos 50 e 60, em continentes como a Ásia e a África e em regiões como a América Latina. Além da independência da Argélia e a Revolução Cubana, fatos estes que mais impressionaram Marighella, que viu ali a luta armada como alternativa para conquista do poder. Destaca o movimento operário, que foi severamente reprimido no Brasil em 1964, tornando expressiva a presença de estudantes na segunda metade dos anos 60; e uma reunião de bispos na cidade de Medelin, na Colombia, pela Organizacion  Latinoamericana de Solidariedad, em 1968, que discutiram questões da América Latina, como a possível necessidade de uma luta armada contra os regimes autoritários. 
  
O documentário apresenta gravação de uma entrevista concebida por Marighella à Rádio Havana, em Cuba, na qual ele defende a luta armada. Depoimentos contam que, ao retornar de Cuba para o Brasil, Marighella é afastado do Comitê Central do Partido Comunista, o que o leva a preparar uma luta armada por meio de uma organização independente. Resolveu então ir em busca de jovens estudantes e velhos comunistas e criou a Ação Libertadora Nacional – ALM, primeira organização armada após o Golpe de 1964. 
              
Outros fatos, como o treinamento com armas feito pelo Grupo Tático Armado (GTA), responsável por abalos na política; o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, apoiado por Marighella, apesar de acreditar que aquele não seria o momento; e a morte deste guerrilheiro em 4 de novembro de 1969, aos 58 anos de idade, também estão no documentário "Marighella, Retrato Falado do Guerrilheiro". Com trilha sonora do maestro Eduardo Camenietzki e interpretação de Ithamara Koorax, o filme mostra arranjo repaginado para o hino socialista Internacional Comunista, além de poesias feitas por Marighella, musicadas. 
  
  
Entrevistados: Clara Charf, esposa; Tereza Marighella, irmã; Carlos Eugênio Paz, ouvidor do trabalho; Antonio Flávio Médici, amigo, aposentado; Ana Montenegro, funcionária pública federal; Takao Amano, advogado; Jacob Gorender, historiador e jornalista; Noé Gertel, amigo; Apolônio; Frei Oswaldo Rezende O. P., frade dominicano; Gilberto Luciano Belloque, administrador; Frei Fernando de Brito O. P., frade dominicano; Regis Debray, escritor; Carlos Fayal, cirurgião dentista; Maria Luiza Locatelli Belloque, pedagoga; Ivo Lesbaupin; ex-frei dominicano e sociólogo; Guiomar Silva Lopes, médica; Manoel Cyrillo de Oliveira Netto, publicitário; Genésio Homem de Oliveira, aposentado; Emiliano José, jornalista e escritor; Rose Nogueira, jornalista. 

FONTE: http://blog.lineup.net.br/2012/02/documentario-de-silvio-tendler-narra.html

http://youtu.be/PL7g1bT0_xg

LINK PARA DOWNLOAD DO DOCUMENTÁRIO:
http://filmespoliticos.blogspot.com.br/2011/11/marighella-retrato-falado-do.html

LEIAM TAMBÉM A ENTREVISTA DE SILVIO TENDLER À REVISTA DE HISTÓRIA:
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/entrevista/silvio-tendler
“Eu diria que despontei para a vida lá pelos meus 14 anos, em plena ditadura militar. E, naquela época, era preciso fazer determinadas escolhas”. Ele fez as dele. Tornou-se cinéfilo, presidente do movimento cineclubista e um apaixonado pela história do país.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

"Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo"

Sobre a biografia "Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo", escrita por Mário Magalhães, lançada em outubro de 2012. A editora, COMPANHIA DAS LETRAS, postou no YouTube um vídeo por semana, até o lançamento do livro.
(entrem no blog para ver os vídeos)




Muita ação, poucas ideias
PUBLICAÇÃO DA VEJA SOBRE A BIOGRAFIA
NA COLUNA "O PAÍS QUER SABER"
de AUGUSTO NUNES
(27/11/2012)

Repórter obstinado, pesquisador competente e escritor talentoso, o jornalista Mário Magalhães dedicou-se nos últimos nove anos ao resgate da história de Carlos Marighella (1911-69), militante comunista na juventude, deputado constituinte com menos de 40 anos e fundador, já cinquentão, da Ação Libertadora Nacional (ALN), a mais conhecida das siglas que afundaram na opção pela luta armada contra a ditadura militar. Magalhães desmontou versões fantasiosas, corrigiu equívocos, resgatou documentos dados por perdidos, escavou episódios desconhecidos ─ e reconstituiu detalhadamente a trajetória do inspirador de Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo (Companhia das Letras; 732 páginas; 45 reais). Ao imprimir um ritmo de thriller à narrativa, o autor tornou possível completar, sem tantas pausas ofegantes, a extensa travessia do que prefere qualificar de reportagem.

Seria uma biografia exemplar se o biógrafo tivesse resistido à tentação de tratar Marighella com brandura. O baiano jovial que fazia versos e gracejava com parceiros de aventuras poderia ter cedido alguns dos numerosos parágrafos que ocupa ao devoto de Stalin que celebrava “a beleza que há em matar com naturalidade”. E a presença do guerrilheiro urbano é tão opressiva que não sobra espaço para a contemplação do terrorista confesso. No Manual do Guerrilheiro Urbano, publicado em 1969, o biografado reserva um capítulo inteiro ao terrorismo, “uma arma que o revolucionário não pode abandonar”. Se essa face escura merecesse a atenção devida, a figura desenhada não pareceria frequentemente inverossímil.

Ainda assim, seguiria sem resposta a única interrogação de bom tamanho que o autor não conseguiu remover: com tantos protagonistas da História do Brasil à espera de um bom biógrafo, por que consumir tantos anos de investigação e tantas centenas de páginas na exumação de um coadjuvante vocacional?  O guerrilheiro que incendiou o mundo ─ proeza  que nem os admiradores de Che Guevara ousaram reivindicar ─ existiu apenas no título do livro. O que emerge da leitura é um homem de ação com coragem de sobra e juízo de menos, e que só desempenhou o papel de n° 1 na organização clandestina que, de 1967 a 1969, comandou com uma arma na mão e nenhuma ideia sensata na cabeça.

O Marighella militante e depois dirigente do Partido Comunista Brasileiro foi mais um entre tantos cumpridores das ordens do onipresente Luiz Carlos Prestes, todos convencidos de que vale tudo para a  implantação da ditadura do proletariado. O Marighella deputado constituinte foi o mais aplicado companheiro de bancada de um Jorge Amado já na antessala da consagração como romancista. O Marighella surpreendido pelo golpe militar de 31 de março de 1964 só virou notícia por ter enfrentado a socos e pontapés os policiais que o prenderam, dois meses depois do mergulho na clandestinidade, no interior de um cinema no Rio. Como não havia testemunhas da luta corporal, a própria notícia foi às redações dos jornais assim que saiu da cadeia. Provou o que dizia com a exibição das marcas da pancadaria.

Mesmo o comandante supremo da ALN teve seus poderes frequentemente confiscados por subordinados hierárquicos. Mário Magalhães descobriu, por exemplo, que Marighella só soube do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick depois de consumada, em parceria com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), a mais espetacular operação promovida por partidários da luta armada. O n° 2 da ALN, Joaquim Câmara Ferreira, endossou e ajudou a executar o plano por estar convencido de que o chefe gostaria da ideia. Errou, revela o livro. Num raro surto de lucidez, Marighella compreendeu que o sequestro de um embaixador dos EUA provocaria retaliações extraordinariamente superiores, em intensidade e violência, ao poder de fogo da minúscula tropa empenhada na perseguição do paraíso socialista.

Capturado em 4 de setembro de 1969, Elbrick foi solto três dias mais tarde em troca da libertação de 15 presos políticos. Em 4 de novembro, Marighella foi fuzilado numa rua de São Paulo por um grupo de policiais chefiado pelo delegado Sérgio Fleury. Até sucumbir à emboscada, ele passara dois anos sonhando na cidade com a guerrilha rural sempre adiada por um assalto a banco, um atentado a bomba ou a execução de um empresário. O guerrilheiro urbano que se imaginava incendiando os campos do Brasil jamais entrou em combate contra tropas regulares do Exército. Só enfrentou a polícia política. Como em todas as batalhas anteriores, perdeu.

Carlos Augusto Marighella

Depoimento de Carlos Augusto Marighella, filho de Carlos Marighella, gravado para a novela Amor e Revolução do SBT.



Flash exibido ANTES do evento em que a presidenta Dilma sancionou dois Projetos de Lei: um que dá acesso às Informações Públicas e outro que cria a Comissão da Verdade. O evento tem a coordenação da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. O repórter Ricardo Carandina entrevistou Carlos Augusto Marighella, ex-preso político e filho de Carlos Marighella.


Carlos Augusto Marighella, durante o lançamento do filme "Marighella - Retrato falado do Guerrilheiro", de Silvio Tendler, lançado durante a exposição na Caixa Cultural no Rio de Janeiro.
(O discurso acontece do meio do vídeo para o final)

O Homem Invisível

A legenda onde eu peguei a imagem diz que é uma pintura na escada, mas talvez seja uma pintura no próprio garoto, como o trabalho do Homem Invisível, o chinês Liu Bolin. Só sei que ver esta foto me fez pensar muito no Artista da Fome, que com o passar do tempo acaba se tornando praticamente invisível para as pessoas, até desaparecer.