segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

BUNRAKU

O bunraku, é uma herança da cultura popular e serve para contar as histórias do Japão antigo. Com movimentos quase humanos e vestidos com kimonos, os bonecos se tranformam em verdadeiros atores no palco. Ao fundo, o som do shamisen marca o compasso da narrativa e o movimento dos bonecos dá a impressão de que têm vida própria.

Origem

A palavra bunraku referia-se originalmente a um empresário teatral, e passou a designar o nome do seu próprio teatro, onde eram representadas as peças. Há cerca de 100 anos a palavra passou a designar o próprio gênero, que, ao contrário do teatro de bonecos que existe em diversos países, não é primariamente destinada ao público infantil, mas sim aos adultos. No bunraku, a representação exige técnicas sofisticadas que junta principalmente narração (conhecido como Tayu), música shamisen e manipulação de bonecos. As peças são desenvolvidas enfocando temas universais, como o Sonezaki Shinju, que baseada em um acontecimento real na cidade de Osaka, conta a história de jovens amantes que se suicidam por não serem compreendidos.

Não se pode determinar com precisão a época em que os bonecos surgiram no Japão, mas acredita-se que na era Heian (entre os séculos 9 e 12) já havia pelo menos um grupo profissional itinerante de manipuladores de bonecos que viajava por diversas regiões. Eles já fundiam a ação cênica dos bonecos com narração e música, sobretudo o instrumento de cordas shamisen.

Entre os mais importantes grupos de narradores estava Guidayu, que fundou um teatro em Osaka especialmente para a performance de teatro de bonecos chamado Takemoto-za. Até este momento, os bonecos eram menores e manipulados por um homem que se posicionava em pé atrás de uma cortina de seu tamanho, e com a mão introduzida por baixo das roupas dos bonecos os movimentava. Em meados do século XVIII surgiram os atuais bonecos, maiores e manipulados por três artistas.
          
As primeiras peças foram criadas coletivamente, por meio de uma técnica peculiar onde escritores de nível semelhante escreviam juntos uma única obra. Muitas delas são representadas ainda hoje.

No início do século XIX, as peças do teatro Bunraku-ken, administrado pelo grupo de Uemura Bunraku-ken, da ilha de Awaji, foi a Osaka, obtendo sucesso ao apresentar pelas de ótima qualidade com artistas brilhantes. A partir de 1872, o grupo passou a chamar-se oficialmente Bunraku-za, vivendo um período de esplendor. A tal ponto que no final da era Meiji passou a representar o próprio gênero. Nos últimos quarenta anos, com a colaboração do governo japonês, da NHK (Emissora Pública de Rádio e Televisão do Japão) e da província de Osaka, foi organizada a Associação Bunraku, para difundir e estimar a prática do gênero. Em 1984 foi inaugurado o Teatro Nacional de Bunraku em Osaka.


         
Dramaturgia no Teatro Bunraku

O dramaturgo Chikamatsu Monzaemon (1653-1714) produziu obras extremamente sofisticadas para o teatro Bunraku. Em vez de temas simples como histórias guerreiras que prevaleciam inicialmente no teatro de bonecos, produziu peças históricas complexas e poéticas, combinando diversas obras do teatro Nô clássico. Ao escrever também uma série enfocando o drama de amantes suicidas, bem como as paixões e as contradições do cotidiano popular, Chikamatsu criou um novo tipo de realismo que se tornou conhecido como sewamono. Nesse tipo de peça não existem vilões óbvios: a tragédia tem sua origem nos conflitos de gente essencialmente boa, presa nas malhas de uma sociedade regida por códigos extremamente severos. Influente como Chikamatsu era, contudo, o público de Edo acabou por preferir peças de construção mais simples, com vilões evidentes e tramas excitantes e irreais. As peças criadas por Chikamatsu eram talvez refinadas demias para o mundo teatral do período Edo, e poucas das suas obras históricas foram encenadas em versões originais. A partir de certa época, os dramas enfocando amantes suicidas foram proibidos sob a alegação de serem sensacionais demais, e quando enfim voltaram a ser permitidos, versões vulgares das pelas de Chikamatsu dominaram os palcos. Contudo, deve-se virtualmente a Chikamatsu a criação de todo um mundo imaginário para o teatro de bonecos. Tanto assim que, na elaboração de pelas históricas, os demais dramaturgos quase sempre buscavam inspiração em personagens e situações criados por Chikamatsu. E, a partir de 1868, quando o Japão abriu seus portos para o o mundo ocidental, as peças enfocando amantes suicidas foram também revividas. Hoje, Chikamatsu é reconhecido como um dramaturgo de grandeza internacional, freqüentemente referido como o “Shakespeare do Japão”.
          
A época de Chikamatsu passou, mas o teatro de bonecos continuou a florescer, agora com peças longas e complexas escritas por equipes de dramaturgos. (As mais famosas, “Sugawara e o Manuscrito Secreto” (1746), “Yoshitsune e as Cerejeiras” (1714) e “Chushingura: a Saga dos Quarenta e Sete Súditos Leais” (1748), são até hoje freqüentemente encenadas em palcos tanto do teatro Kabuki quanto do Bunraku). Com o tempo, o teatro de bonecos de Osaka tornou-se tão vigoroso que chegou a ofuscar por completo o teatro Kabuki, dando a impressão, a uma certa altura, de que este último gênero havia desaparecido. Importantes obras para bonecos continuaram a ser escritas até fins do século XVIII e, depois disso, as técnicas de performance tornaram-se bastante requintadas.

Tanto as peças históricas como os sewamono contêm um elemento racional e humano bem desenvolvido para ajustar-se à cultura dos astutos mercadores de Osaka. Deuses ou budas nunca intervêm, e muito embora milagres e eventos fantásticos possam ocorrer de tempos em tempos, resultam todos eles do esforço dos seres humanos.



Detalhes técnicos

Os bonecos geralmente têm de 3 a 4 e meio pés de altura e seu peso pode chegar de 6 até 20 quilos. Eles dão a impressão de que têm vida própria porque cada boneco é manipulado por três homens (titereiros), em sincronia perfeita. Inclusive para manipular os bonecos são necessários cerca de 10 anos de aprendizado em cada estágio.
O titereiro principal se chama omo-zukai e ele insere sua mão esquerda no orifício do quadril e segura a haste do pescoço entre o polegar e o indicador. Enquanto sustenta o peso do boneco, utiliza os 3 dedos restantes da mão para manipular os fios que movem os olhos, a boca, e a sobrancelha. Sua mão direita é utilizada para mover o braço direito do boneco.
O braço esquerdo do boneco é manipulado pelo hidari-zukai que desempenha o papel de assistente. Precisa trabalhar em sintonia com o omo-zukai observando a direção da cabeça do boneco e determinando a posição do braço esquerdo de acordo com essa direção.
As pernas do boneco são manipuladas pelo ashi-zukai, que move os ganchos em forma de L, instalados atrás dos calcanhares para trás e para frente, para esquerda e para direita a fim de imitar os movimentos das pernas. Este trabalho é cansativo porque durante a apresentação é obrigado a se manter oculto da platéia, pois assume uma postura inclinada. Para todos os movimentos há regras detalhadas e formas a serem seguidas e nenhum manipulador pode improvisar.
Uma apresentação também tem a participação do Tayu que recita o Joruri que é uma forma poética semelhante a um drama épico e o músico do Shamisen que, com um instrumento de 03 cordas fornece acompanhamento musical para recitação e manipulação dos bonecos. De uma forma simples pode-se dizer que a história narrada pelo Tayu é um poema épico escrito numa forma dramática e o Shamisen acompanha a narrativa criando uma atmosfera musical para que os bonecos atuem conforme a melodia produzindo um efeito combinado, semelhante a uma apresentação de ópera.
O Joruri não é apenas um canção com melodia e ritmo pois ela explica através da música, o desenrolar do espetáculo. Nesta tarefa, o Tayu utiliza diferentes tons de voz para distinguir papéis masculinos e femininos ou para mostrar sentimentos e  emoções. E a interpretação do Joruri é que pode diferenciar a apresentação das peças.
Texto extraído da FUNDAÇÃO JAPÃO

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