sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

passagem...

O corpo na dança butô busca novos acordos, busca romper com a estabilidade, com a fixação em um espaço-tempo. Seu estado é de passagem, atualizando potencialidades invisíveis. É um corpo mítico, poético, que integra esse movimento paradoxal da morte-vida, criando, dessa maneira, conexões fluidas de espaços para a afirmação da vida. É um corpo livre, que não se prende a territórios fixos e integra o novo como condição de existência.





Para dançar, deve-se matar o corpo...


Kazuo Ohno, diz que ao dançar, deve-se ter o corpo morto e os olhos mortos. Para dançar, deve-se matar o corpo, no sentido de matar a submissão da expressão do nosso corpo à nossa vontade, ao nossos ego e superego. Através do corpo morto pode-se chegar a um resultado inusitado, genuíno, "louco". É como a busca da "fala" de um corpo sem preconceitos, sem dogmas. Mata-se um corpo para que outro, desconhecido, possa revelar-se.
Em uma aula no seu estúdio, Ohno explicou aos alunos os olhos mortos:
"Dançar como num sonho. Olhos abertos sem ver, sem fixá-los em nada, sem tomar conhecimento visual do que se passa. Há anos eu venho estudado a respeito dos olhos. Que tipo de olhos trazer quando se representa a eternidade? Ah! Que difícil! De qualquer maneira, se se dança de olhos fechados (como vejo alguns fazerem) perde-se uma parte essencial do corpo. Tive um cachorro que morreu de olhos abertos. Olhos vivos, translúcidos, mas olhos que nada vêem. É esse o olhar que vocês devem ter."
 

Tooro Nagashi celebrado no final do Obon. As lanternas de papel com os nomes dos falecidos escritos são soltas no mar ou em rios. As lanternas iluminam o caminho dos espíritos e são acompanhadas de pedidos de paz.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Misha Gordin

Pirem nestas imagens!!! Tem mais no site: http://www.bsimple.com/
Matéria sobre Misha Gordin no site Obvious: http://obviousmag.org/archives/2008/06/misha_gordin_fotografia.html

post: Alex Merino



quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ofélia - John Everett Millais

Pintura - Ofélia, de John Everett Millais



"Ofélia" (1851-2) é a obra mais famosa do pintor inglês John Everett Millais. Nesta tela, o artista representa a imagem idealizada da mulher trágica, predominante na pintura romântica.
Ofélia, a namorada suicida de Hamlet, foi pintada com minuciosa atenção. Centralizada na composição, a mulher flutua em um lago com a vegetação fechada emoldurando seu corpo. Alheia ao que a cerca, seu semblante melancólico não esboça qualquer reação.
O artista procura imprimir uma visão imaterial da mulher, cuja textura do rosto, em tom de mármore, assemelha-se às madonas renascentistas. Seu corpo e principalmente seu rosto emanam luz, conferindo-lhe intensa carga simbólica.
A obra integra o acervo da Tate Gallery, em Londres.


Post. Jonathan

quarta-feira

memórias...
















Mari .

American Beauty - Flying Bag

A Balada da Menina Afogada

Bertolt Brecht e Kurt Weill
Versão: Tatiana Belinky


Quando ela se afogou e flutuou
Dos ribeirões para os rios maiores
Luz estranha de opala no céu brilhou
Como se quisesse embalar o cadáver


Alga e líquem nela se enroscou
E o corpo ficou cada vez mais pesado
Frios peixes roçavam-lhe pelas pernas
Plantas e bichos tolhiam seu último flutuar

E à tarde o céu triste escureceu
Qual fumaça encobriu a luz das estrelas
Mas cedo clareou para que também
Ainda houvesse mais uma manhã para ela


Quando o pálido corpo n’água apodreceu
Deus então devagar a esqueceu pouco a pouco
Primeiro seu rosto, suas mãos e o cabelo por fim
E ela fez-se carniça em rios de carniça



post: maíra barbosa
créditos: mari molinos

sábado, 8 de janeiro de 2011

...













O Balcão

(O Balcão de Manet, 1869)



(O Balcão de René Magritte, 1950)




As figuras do quadro de Manet foram substituídas pelos caixões de Magritte; por outro lado, a cena permanece inalterada. O lugar dos vivos é tomado por objetos mortos, os quais chocam porque parecem representar igualmente bem os seres humanos.




Post. Jonathan

Único Remédio

(Saturno devorando um filho - 1819, Goya)


Como a chama que sobe e que se apaga,
Sobem as vidas a espiral do Inferno.
O desespero é como o fogo eterno
Que o campo quieto em convulsões alaga...

Tudo é veneno, tudo cardo e praga!
E as almas que têm sêde de falerno
Bebem apenas o licor moderno
Do tédio pessimista que as esmaga.

Mas a caveira vem se aproximando,
Vem exótica e nua, vem dançando,
No estrambotismo lúgubre vem vindo.

E tudo acaba então no horror insano
- Desespero do Inferno e tédio humano -
Quando, de esquelha, a Morte surge rindo...

(Cruz e Souza)






Post. Jonathan

" Cruz e Sousa, enquanto descendente de escravos africanos, reagiu dramaticamente à opressão dos prejuízos pseudocientíficos. Mas essa reação pessoal carecia de uma argumentação cerrada e discursiva e se situava à margem da cultura objetiva do tempo.De todo modo, apesar da sua impotência, o poeta encontrou formas verbais que exprimissem a sua reação existencial e a comunicassem alcançando produzir uma linguagem poeticamente contra-ideológica. A rebeldia era um sentimento forte, porém difuso, em busca de imagens que lhe dessem concretude, plasticidade, sonoridade. O problema era passar da intuição dos próprios sentimentos à sua forma viva, plenamente expressiva. Como poeta íntimo da linguagem de Hugo, de Baudelaire e de Antero, Cruz e Sousa abraçou apaixonadamente o imaginário dos últimos românticos e dos simbolistas que faziam do artista o Profeta e o Prometeu, o decifrador dos mistérios cósmicos e o arquiteto de formas raras. O simbolismo e os seus ascendentes românticos favoreceram o surto de rasgos estilísticos de exaltação e sublimação das paixões. Esses rasgos, embora muitas vezes se orquestrassem em uma retórica prolixa, hoje pouco palatável, concorreram para veicular as legítimas aspirações de grandeza moral e intelectual do poeta humilhado pelas sentenças racistas. "




Post.Mari



sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Morto Prazenteiro

Onde haja caracóis, n'um fecundo torrão,
Uma grandiosa cova eu mesmo quero abrir,
Onde repouse em paz, onde possa dormir,
Como dorme no oceano o livre tubarão.

Detesto os mausoléus, odeio os monumentos,
E, a ter de suplicar as lágrimas do mundo,
Prefiro oferecer o meu carcaz imundo,
Qual precioso manjar, aos corvos agoirentos.

Verme, larva brutal, tenebroso mineiro,
Vai entregar-se a vós um morto prazenteiro,
Que livremente busca a treva, a podridão!

Sem piedade, minai a minha carne impura,
E dizei-me depois se existe uma tortura
Que não tenha sofrido este meu coração!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães
Post: Maíra Barbosa

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

“– Mas, que importa tudo isso?! Qual é a cor de minha forma, do meu sentir? Qual é a cor da tempestade de dilacerações que me abala? Qual a de meus sonhos e gritos? Qual a de meus desejos e febre?”


Cruz e Souza

" (...) O que Cruz e Sousa repudia na ciência oficial é o seu duplo caráter de precariedade e despotismo. Em primeiro lugar, é um saber “de hipóteses”, incapaz de pensar o teor relativo e falível das suas proposições: por isso, crê-se no direito de transitar da conjectura para uma escala de valores forjando uma lei evolutiva que hierarquiza raças, povos e grupos e os coloca “no seu devido lu- gar”. Além do que, é uma ciência despótica, pois submete a si a opinião dos bem pensantes tornando impotente a voz singular do rebelde. Impotente, mas não resignada à mudez: “Eu trazia, como cadáveres que me andassem funambu- lescamente amarrados às costas, num inquietante e interminável apodrecimen- to, todos os empirismos preconceituosos e não sei quanta camada morta, quanta raça d’África curiosa e desolada que a Fisiologia nulificasse para sempre com o riso haeckeliano e papal (...)"


Mari Gomes

Deus do Mal - Cruz e Souza

Espírito do Mal, ó deus perverso
Que tantas almas dúbias acalentas,
Veneno tentador na luz disperso
Que a própria luz e a própria sombra tentas.


Símbolo atroz das culpas do Universo,
Espelho fiel das convulsões violentas
Do gasto coração no lodo imerso
Das tormentas vulcânicas, sangrentas.


Toda a tua sinistra trajetória
Tem um brilho de lágrima ilusória,
As melodias mórbidas do Inferno...


És Mal, mas sendo Mal és soluçante,
Sem a graça divina e consolante,
Réprobo estranho do Perdão eterno!


Danilo Firmo

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Contos da Meia Noite - Dois corpos que caem




Post: Maíra Barbosa

DEMÔNIOS - CRUZ E SOUSA

Post: Danilo Firmo

A língua vil, ignívoma, purpúrea dos pecados mortais bava e braveja, com os seres impoluídos mercadeja, mordendo-os fundo, injúria sobre injúria.

É um grito infernal de atroz luxúria, dor de danados, dor de Caos que almeja. A toda alma serena que viceja, só fúria, fúria, fúria, fúria, fúria!

São pecados mortais feitos hirsutos demônios maus que os venenosos frutos morderam com volúpia de quem ama...

Vermes da Inveja, a lesma verde e oleosa, anões da Dor torcida e cancerosa, abortos de almas a sangrar na lama!



MORTE

A Morte

IRONIA DOS VERMES

Eu imagino que és uma princesa
Morta na flor da castidade branca...
Que teu cortejo sepulcral arranca
Por tanta pompa espasmos de surpresa.
Que tu vais por um coche conduzida,
Por esquadrões flamívomos guardada,
Como carnal e virgem madrugada,
Bela das belas, sem mais sol, sem vida.
Que da Corte os luzidos Dignitários
Com seus aspectos marciais, bizarros,
Seguem-te após nos fagulhantes, carros
E a excelsa cauda dos cortejos vários.
Que a tropa toda forma nos caminhos
Por onde irás passar indiferente;
Que há no semblante vão de toda a gente
Curiosidades que parecem vinhos.
Que os potentes canhões roucos atroam
O espaço claro de uma tarde suave,
E que tu vais, Lírio dos lírios e ave
Do Amor, por entre os sons que te coroam.
Que nas flores, nas sedas, nos veludos,
E nos cristais do féretro radiante
Nos damascos do Oriente, na faiscante
Onda de tudo há longos prantos mudos.
Que do silêncio azul da imensidade,
Do perdão infinito dos Espaços
Tudo te dá os beijos e os abraços
Do seu adeus a tua Majestade.
Que de todas as coisas como Verbo
De saudades sem termo e de amargura,
Sai um adeus a tua formosura,
Num desolado sentimento acerbo.
Que o teu corpo de luz, teu corpo amado,
Envolto em finas e cheirosas vestes,
Sob o carinho das Mansões celestes
Ficará pela Morte encarcerado.
Que o teu séquito é tal, tal a coorte,
Tal o sol dos brasões, por toda a parte,
Que em vez da horrenda Morte suplantar-te
Crê-se que és tu que suplantaste a Morte.
Mas dos faustos mortais a regia trompa,
Os grandes ouropéis, a real Quermesse,
Ah! tudo, tudo proclamar parece
Que hás de afinal apodrecer com pompa.
Como que foram feitos de luxúria
E gozo ideal teus funerais luxuosos
Para que os vermes, pouco escrupulosos,
Não te devorem com plebéia fúria.
Para que eles ao menos vendo as belas
Magnificências do teu corpo exausto
Mordam-te com cuidados e cautelas
Para o teu corpo apodrecer com fausto.
Para que possa apodrecer nas frias
Geleiras sepulcrais d'esquecimentos,
Nos mais augustos apodrecimentos,
Entre constelações e pedrarias.
Mas ah! quanta ironia atroz, funérea,
Imaginária e cândida Princesa:
És igual a uma simples camponesa
Nos apodrecimentos da Matéria!
Cruz e Sousa



Post: Mari Gomes

Tristeza do Infinito

Anda em mim, soturnamente,
uma tristeza ociosa,
sem objetivo, latente,
vaga, indecisa, medrosa.

Como ave torva e sem rumo,
ondula, vagueia, oscila
e sobe em nuvens de fumo
e na minh'alma se asila.

Uma tristeza que eu, mudo,
fico nela meditando
e meditando, por tudo
e em toda a parte sonhando.

Tristeza de não sei donde,
de não sei quando nem como...
flor mortal, que dentro esconde
sementes de um mago pomo.

Dessas tristezas incertas,
esparsas, indefinidas...
como almas vagas, desertas
no rumo eterno das vidas.

Tristeza sem causa forte,
diversa de outras tristezas,
nem da vida nem da morte
gerada nas correntezas...

Tristeza de outros espaços,
de outros céus, de outras esferas,
de outros límpidos abraços,
de outras castas primaveras.

Dessas tristezas que vagam
com volúpias tão sombrias
que as nossas almas alagam
de estranhas melancolias.

Dessas tristezas sem fundo,
sem origens prolongadas,
sem saudades deste mundo,
sem noites, sem alvoradas.

Que principiam no sonho
e acabam na Realidade,
através do mar tristonho
desta absurda Imensidade.

Certa tristeza indizível,
abstrata, como se fosse
a grande alma do Sensível
magoada, mística, doce.

Ah! tristeza imponderável,
abismo, mistério, aflito,
torturante, formidável...
ah! tristeza do Infinito!


CRUZ E SOUSA

Post: Mari Gomes

Cruz e Sousa - O Poeta do Desterro


Cruz e Sousa - O Poeta do Desterro, de Sylvio Back.
Post: Alex Merino