segunda-feira, 27 de junho de 2011

a dança por Inês Correa

PRODUTO PERECÍVEL LAICO
(local:ninho sansacroma,Capão Redondo)


Por Helena Katz

Segunda, 27 de Junho de 2011 | Atualizado às 10h49

8 semanas de arte e pesquisa

Evento no CCSP apresentou 25 espetáculos, além de palestras e workshops

Ede Hohne/Divulgação

8 semanas de arte e pesquisa
Helena Katz
Com 25 espetáculos e mais de 100 apresentações sob o tema Públicos, o Semanas de Dança, que terminou ontem, também mostrou durante oito semanas algumas ações de formação - outro modo de nomear o workshop no qual o artista entra em contato com os interessados no seu trabalho.

Tema mais do que oportuno, pois a urgência em pensar a comunicação/incomunicação da dança contemporânea se impõe a cada dia com mais agudeza. Resta saber se um evento com o formato do Semanas consegue colaborar com tal demanda para além de chamar a atenção para a pertinência da sua discussão.

Nascido de uma associação entre as curadorias de dança e educativa do Centro Cultural São Paulo, pretendeu buscar outros públicos, diferentes daquele que já sai de casa para assistir à dança. Exibiu três espetáculos a cada noite e ofereceu ações de formação: um encontro entre o artista e os interessados no seu trabalho, cinco palestras junto ao projeto Professor no Centro, e três montagens para o público infantil. Ou seja, testou a hipótese de que o alargamento da programação, associado ao contato com as atividades de formação propostas, contribuiria para a desejável ampliação de público - o que um evento dessa natureza não consegue tornar visível.

Tomemos como exemplo o programa que reuniu Paula Pi, Eduardo Fukushima e a Cia. Sansacroma, cuja lógica de juntá-los expressa o entendimento de que a reunião de produtos distintos opera uma democratização do acesso por si mesma.

Notas Sobre a Minha Mãe - Opus 2 foi o terceiro trabalho de Paula Pi sobre o tema que tem lhe instigado: a relação mãe-filha. Três anos atrás, ela apresentou o primeiro, Quando Ando em Pedaços ou Notas Sobre a Minha Mãe, na mostra anual que João Andreazzi realiza no Lugar. E no mês passado, produziu uma nova versão dele no hoje desativado Teatro da Dança. Os dois primeiros estão ligados pelo material coreográfico inspirado na vida e na obra de Adelina Gomes, uma paciente psiquiátrica de Nise da Silveira que trabalhou a figura materna nas mais de 17.500 obras (pinturas, desenhos e esculturas) que criou no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro, no Rio. Já o terceiro, resultado da parceria com Clarissa Sacchelli, constrói-se mais explicitamente em torno da relação mãe-filha, fazendo da música, que Paula estuda desde os 6 anos, uma metáfora das questões problemáticas desse relacionamento.

A intérprete começa derrubando o "corpo" da música, para que ele deixe de reger o espaço. Mas será também necessário recuperá-lo, mais adiante, para o exercício que se impõe: o jogo entre o submeter-se e o submeter o outro que vai estruturar a obra.

A jovem Paula Pi surge para dar continuidade à importante linhagem das grandes intérpretes interessadas na construção de personagens com dança. Sua movimentação é clara e bem acabada, e com o talento que demonstra, aos poucos será adensada pelas nuances necessárias, hoje ainda ausentes. Os começos - e não somente os artísticos - tendem mesmo a ser pautados por muitas certezas e apenas a continuidade do fazer produz a dose certa de incompletude, necessária para a sabedoria do corpo.

A Cia. Sansacroma mostrou Máquina de Fazer Falar, direção e concepção de Gal Martins e coreografia, figurinos e adaptação de textos dela e dos sete intérpretes-criadores que compõem o elenco. Criado em 2002 por Gal e situado no Capão Redondo, o Ninho Sansacroma tem oito obras no seu repertório. A Máquina de Fazer Falar é o segundo resultado do projeto Fragmentos de um Choque, que já produziu As Lembranças de Auschwitz, dirigido por Siva Nunes. As produções nasceram de assuntos incisivos, sempre em torno dos preconceitos, como indicam seus títulos Negro por Brasil, (2002), Orfeu Dilacerado (2006) ou Solano em Rascunhos (2008, a partir do poeta Solano Trindade).

A atuação do Ninho no extremo sul da cidade de SP (Capão Redondo, Jardim Ângela, Jardim São Luiz e Campo Limpo) merece atenção pela relevância do que vem realizando. Focando na ausência de contato com a dança contemporânea naquela região, dedica-se a construir um trânsito permanente e de mão dupla entre os habitantes e a produção contemporânea, e os artistas desse segmento e a população local. Pela segunda vez realizaram lá, em maio, a mostra Circuito Vozes do Corpo, com espetáculos, workshops e debates.

A obra que a cia. dançou no Semanas dialoga com Produto Perecível Laico, que a Cia. Sandro Borelli estreou dia 23. Ambas fazem parte do Projeto Mão Dupla, que as duas companhias firmaram e que, evidentemente, propõe como reflexão que espécie de mão dupla é possível entre duas trupes de características profissionais distintas, que compartilham um mesmo interesse por assuntos contestadores da passividade da sociedade.

O importante a destacar não é a ainda fragilidade do que deseja ser contundente nessa criação, porque o fazer na continuidade vai promover algo nessa direção. Talvez o que caiba agora ponderar seja que tipo de política pública colaboraria para que isso acontecesse não somente com a Cia. Sansacroma, mas também para tantas outras que a ela se assemelham nas dificuldades trazidas pela geografia cultural na qual se inserem. Seu elenco empenhado, o profissionalismo de sua produção e a coerência do percurso que vem sendo construído pelo grupo trazem esperança de que as fronteiras que hoje ainda estão de pé podem ser flexibilizadas. Mas, para que isso aconteça, será necessário deixar de ignorar que tipos distintos de trabalhos pedem por formas específicas de tratamento por parte de programadores, curadores e, sobretudo, das políticas públicas de fomento.

Com relação ao público que assiste dança, a pergunta que cabe é a seguinte: encontra um cardápio diverso em um mesmo lugar colabora ou atrapalha com o refinamento da sua percepção?

sábado, 25 de junho de 2011

Impressões... por Fernanda Sanches

Impressões sobre "Produto Perecível Laico" (23/06/2011) 
por Fernanda Sanches

Com uma atmosfera sombria, porém delicada, sou intimamente convidada a pertencer aquele mundo. De uma forma quase hipnótica vou entrando no espaço sagrado da arte, querendo brincar junto com aqueles seres, quebrar o tabu do corpo, alma-tabu, corpo livre. A fragilidade da pessoa-boneca que aceita sua própria condição é de uma plasticidade tão bela que dá vontade de querer ser também boneca, se deixar levar, ser carregado, não precisar agir, ser presente estando ausente, liberdade na inanição. Algodão, nuvem, pérola no céu. Como um sonho onde podemos voar, atingir um ponto concedido pela vida apenas aos pássaros e aos objetos voadores. Ao passo que os corpos manipuladores, zombeteiros, brincalhões, seres orgânicos em sintonia e unidade brincam com nosso imaginário, paixão e risco, um risco perigoso como a morte, que tanto nos assusta, mas que para eles não é nada além de um brinquedo, joguete do destino, e o próprio destino uma grande brincadeira de ‘Lilah’, do universo, dos átomos, construindo ao acaso aquilo a que nos apegamos tanto e chamamos de vida. Mas é possível que o tabu da morte seja mais forte que a vontade de querer viver essa nova e repetitiva experiência e quando me vi totalmente envolvida no sonho orgânico dos seres atômicos e autônomos, veio um enjôo, náusea, vontade de não estar ali, enquanto a beleza plástica do corpo que flui convidava a ficar, e essa oposição incômoda trazia a vontade de não pertencer a nenhuma das duas possibilidades. Apego, medo, materialismo tardio, o desconhecido batendo a porta que não quero abrir. Como quando as diversas vezes que tomei ‘Ayuhasca’ – estando lá, não há como fugir de tamanha experiência deslumbrante e aterrorizante de autoconhecimento. O momento em que a estética, espetáculo, arte deixa de ser externa e as imagens te levam pra dentro, dentro, dentro, fundo, vontade de chorar, nó, hora de rever os conceitos, as travas, encarar os medos e deixar sim, forçadamente, o desconhecido e o perigo entrar. Para talvez deixar o caos penetrar? A suavidade no risco? Os mundos antagônicos conviverem? Paz? Equilíbrio no buraco vazio? Esquecer que é teatro, dança, corpos, pessoas reais, com suas histórias e vidas pessoais. E assim, finalmente, voltar a concretude do espaço real – vida, cadeira, bolsa, relógio, palmas - e aceitar viver nele. Embora a vontade de ficar presa – mesma que ilusoriamente – ao mundo sonho permaneça. Mas nada pode durar pra sempre. E tudo continuará sendo como é.

post: Alex Merino

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Por Danilo Firmo

Movimentação da alma                        

 Danilo Firmo

A melhor sensação é estar dentro do palco e transmitir sua experiência de vida e dar vida ao trabalho realizado da companhia que trabalho.
A movimentação é a consequência do sentir o formato de um poema é uma ótima qualidade!
Sempre agradeço por estar em cena!

Deixo o convite para todos aqui presentes!
Cia Borelli de Dança no CCSP de quinta a domingo as 21h, Produto Perecível Laico

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Entre as estréias... estreiando

Teatro Anhembi Morumbi (12/03),Oficina Cultural Oswald de Andrade (25/03)
ETEC de artes (15/04), Ninho Sansacroma (30/04 e 01/05), Jaguariuna (14/05),                
Mongaguá (4/06),Manaus (11/06)
Centro Cultural São Paulo: 23, 24, 25, 26/06
Oh! que doce tristeza e que ternura
No olhar ansioso, aflito dos que morrem...
De que âncoras profundas se socorrem
Os que penetram nessa noite escura!

Da vida aos frios véus da sepultura
Vagos momentos trêmulos decorrem...
E dos olhos as lágrimas escorrem
Como faróis da humana Desventura.

Descem então aos golfos congelados
Os que na terra vagam suspirando,
Com os velhos corações tantalizados.

Tudo negro e sinistro vai rolando
Báratro abaixo, aos ecos soluçados
Do vendaval da Morte ondeando, uivando...
Cruz e Sousa
vitor vieira

sábado, 18 de junho de 2011

DDiarte

© DDiarte, "Thera", Coleção Berardo, (Medalha de Bronze Gaudi no Prémio Cidade de Réus de Fotografia na VI Bienal Internacional de Fotografia XLV Medalla Gaudi, para a obra, Espanha, 2007).

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/06/ddiarte_barroco_digital.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+OBVIOUS+%28obvious+magazine%29#ixzz1PavwYeaf



Post.: Alex Merino

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
– Sem deixar sequer esse nome
(Manuel Bandeira)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Exercitando

Exercitando o olhar para as novas/velhas abordagens corporais...  
um corpo 
que sede espaço aos versos
cruzesousaugustodosanjos
onde mora a casualidade ou versos em comum...  Rumo a novas possibilidades!






Da vida aos frios véus da sepultura

Augusto dos Anjos
VOZES DE UM TÚMULO 
Morri! E a Terra - a mãe comum - o brilho
Destes meus olhos apagou!... Assim
Tântalo, aos reais convivas, num festim,
Serviu as carnes do seu próprio filho!

Por que para este cemitério vim?!
Por quê?! Antes da vida o angusto trilho
Palmilhasse, do que este que palmilho
E que me assombra, porque não tem fim!

No ardor do sonho que o fronema exalta
Construí de orgulho ênea pirâmide alta...
Hoje, porém, que se desmoronou

A pirâmide real do meu orgulho,
Hoje que arenas sou matéria e entulho
Tenho consciência de que nada sou!

 Cruz e Sousa
A MORTE
Oh! que doce tristeza e que ternura
No olhar ansioso, aflito dos que morrem...
De que âncoras profundas se socorrem
Os que penetram nessa noite escura!

Da vida aos frios véus da sepultura
Vagos momentos trêmulos decorrem...
E dos olhos as lágrimas escorrem
Como faróis da humana Desventura.

Descem então aos golfos congelados
Os que na terra vagam suspirando,
Com os velhos corações tantalizados.

Tudo negro e sinistro vai rolando
Báratro abaixo, aos ecos soluçados
Do vendaval da Morte ondeando, uivando...
 

Ser, parecer

Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida

Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos

                                                 
(Mia Couto)