sábado, 25 de junho de 2011

Impressões... por Fernanda Sanches

Impressões sobre "Produto Perecível Laico" (23/06/2011) 
por Fernanda Sanches

Com uma atmosfera sombria, porém delicada, sou intimamente convidada a pertencer aquele mundo. De uma forma quase hipnótica vou entrando no espaço sagrado da arte, querendo brincar junto com aqueles seres, quebrar o tabu do corpo, alma-tabu, corpo livre. A fragilidade da pessoa-boneca que aceita sua própria condição é de uma plasticidade tão bela que dá vontade de querer ser também boneca, se deixar levar, ser carregado, não precisar agir, ser presente estando ausente, liberdade na inanição. Algodão, nuvem, pérola no céu. Como um sonho onde podemos voar, atingir um ponto concedido pela vida apenas aos pássaros e aos objetos voadores. Ao passo que os corpos manipuladores, zombeteiros, brincalhões, seres orgânicos em sintonia e unidade brincam com nosso imaginário, paixão e risco, um risco perigoso como a morte, que tanto nos assusta, mas que para eles não é nada além de um brinquedo, joguete do destino, e o próprio destino uma grande brincadeira de ‘Lilah’, do universo, dos átomos, construindo ao acaso aquilo a que nos apegamos tanto e chamamos de vida. Mas é possível que o tabu da morte seja mais forte que a vontade de querer viver essa nova e repetitiva experiência e quando me vi totalmente envolvida no sonho orgânico dos seres atômicos e autônomos, veio um enjôo, náusea, vontade de não estar ali, enquanto a beleza plástica do corpo que flui convidava a ficar, e essa oposição incômoda trazia a vontade de não pertencer a nenhuma das duas possibilidades. Apego, medo, materialismo tardio, o desconhecido batendo a porta que não quero abrir. Como quando as diversas vezes que tomei ‘Ayuhasca’ – estando lá, não há como fugir de tamanha experiência deslumbrante e aterrorizante de autoconhecimento. O momento em que a estética, espetáculo, arte deixa de ser externa e as imagens te levam pra dentro, dentro, dentro, fundo, vontade de chorar, nó, hora de rever os conceitos, as travas, encarar os medos e deixar sim, forçadamente, o desconhecido e o perigo entrar. Para talvez deixar o caos penetrar? A suavidade no risco? Os mundos antagônicos conviverem? Paz? Equilíbrio no buraco vazio? Esquecer que é teatro, dança, corpos, pessoas reais, com suas histórias e vidas pessoais. E assim, finalmente, voltar a concretude do espaço real – vida, cadeira, bolsa, relógio, palmas - e aceitar viver nele. Embora a vontade de ficar presa – mesma que ilusoriamente – ao mundo sonho permaneça. Mas nada pode durar pra sempre. E tudo continuará sendo como é.

post: Alex Merino

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