sábado, 8 de janeiro de 2011


" Cruz e Sousa, enquanto descendente de escravos africanos, reagiu dramaticamente à opressão dos prejuízos pseudocientíficos. Mas essa reação pessoal carecia de uma argumentação cerrada e discursiva e se situava à margem da cultura objetiva do tempo.De todo modo, apesar da sua impotência, o poeta encontrou formas verbais que exprimissem a sua reação existencial e a comunicassem alcançando produzir uma linguagem poeticamente contra-ideológica. A rebeldia era um sentimento forte, porém difuso, em busca de imagens que lhe dessem concretude, plasticidade, sonoridade. O problema era passar da intuição dos próprios sentimentos à sua forma viva, plenamente expressiva. Como poeta íntimo da linguagem de Hugo, de Baudelaire e de Antero, Cruz e Sousa abraçou apaixonadamente o imaginário dos últimos românticos e dos simbolistas que faziam do artista o Profeta e o Prometeu, o decifrador dos mistérios cósmicos e o arquiteto de formas raras. O simbolismo e os seus ascendentes românticos favoreceram o surto de rasgos estilísticos de exaltação e sublimação das paixões. Esses rasgos, embora muitas vezes se orquestrassem em uma retórica prolixa, hoje pouco palatável, concorreram para veicular as legítimas aspirações de grandeza moral e intelectual do poeta humilhado pelas sentenças racistas. "




Post.Mari



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