segunda-feira, 4 de julho de 2011

Murilo e Adalgisa contam a história de Ismael Nery

As cabeças voadoras têm vozes dissonantes: Murilo e Adalgisa contam a história de Ismael Nery1
André Teixeira Cordeiro
Faculdade Integrada Brasil Amazônia - FIBRA
Devo dizer que presto meu depoimento com absoluta honestidade, sem o menor desejo de mistificar, como também sem motivo para concordar com algumas pessoas que, tendo conhecido superficialmente Ismael Nery, recusam-lhe a grandeza e atribuem-me a preocupação de criar um mito.
Murilo Mendes, Recordações de Ismael Nery.
Cada um de nós tem as suas recordações, os seus pontos fixos na memória, e não é justo que recusem as minhas lembranças. A verdade de cada um não pode ser transferida, negada nem subestimada, pois dela formamos a nossa vida, nosso ambiente e sabemos o motivo das nossas reações. Negar uma recordação é um abuso e uma fraqueza.
                                    Adalgisa Nery, A imaginária.
O único compromisso que a gente tem com a história é reescrevê-la.
Oscar Wilde
Um homem e duas cabeças voadoras se encontram nos céus do Rio de Janeiro, é o que nos apresenta o Auto-retrato (fig. 1) de Ismael Nery. Aí, o pintor levita ao lado de Murilo Mendes Adalgisa Nery. Circula em torno do masculino e feminino, vai se estudando como se estivesse diante de um espelho. De maneira geral, Ismael pintou-se nos quadros e/ou retratou sua esposa Adalgisa. Domingos Giobbi arrematou o quadro num leilão, e mencionou o seguinte: “Não é apenas um auto-retrato, é também uma auto-biografia” (Bento 124).
Fig. 1 Auto-retrato. óleo s/tela, 129 x 84 cm. Col. Domingos Giobbi. 2
Chegar a Murilo e à Adalgisa é, certamente, passar por Ismael. Estudar Ismael é ainda reencontrar Murilo e Adalgisa, pois alguns dos principais depoimentos a respeito do pintor foram escritos por eles. A experiência de Murilo, com o pensamento e a figura do amigo, revela um misto de santo e artista. Adalgisa apresenta o homem desnudo, o vampiro tanto amado. Aproximar esses desdobramentos é uma tentativa de se chegar mais perto da complexa figura de Ismael.
Perceber, confrontar e trazer à tona esses muitos Ismaeis é também adentrar uma obra que se confunde com a própria vida de seu autor. Ouvir a "verdade" de Murilo e a "verdade" de Adalgisa é perceber melhor o Ismael que cada um tomou para si, é apontar caminhos para se compreender como a mensagem de Ismael frutificou na obra de cada um deles.3
Doze anos após a morte de Ismael, Murilo publicou, de meados de 1946 ao começo de 1949, uma série de artigos sobre o amigo nos jornais O Estado de São Paulo e A Manhã (suplemento Letras e Artes), do Rio de Janeiro.
Foi, pois, sob as espécies de pintor, desenhista e arquiteto que conheci Ismael Nery. Mas em breve outros aspectos, estes os mais profundos, da sua personalidade, eram-me desvendados: o do poeta, do filósofo e mesmo do teólogo (Mendes, Recordações de Ismael Nery21).
Eles representam o documento mais vivo a respeito de Ismael. Quanto à Adalgisa, também escreveu sobre o artista, mas quase todos os trabalhos4 a respeito de Ismael deram pouco ou nenhum espaço a A imaginária, uma autobiografia romanceada, publicada por ela em 1959. Quem conheceu a obra e a personalidade de Ismael, a partir dos artigos e depoimentos de seus amigos —Murilo Mendes, Mário Pedrosa, Antônio Bento —, considerados alguns dos iniciadores do modernismo no Rio de Janeiro, tem certo estremecimento diante do Ismael apresentado por ela em A Imaginária. A 6 de março de 1959, o seu confessor, Dom Clemente Isnard, então bispo de Friburgo, escreve a ela:
Fiquei comovido com sua lembrança de me enviar seu último romance. E minha comoção aumentou quando, ao folhear o volume, reconheci a identidade de uma personagem e percebi que se tratava de uma autobiografia. A partir desse momento foi com renovado interesse que percorri as páginas do livro, as páginas de uma vida (Callado 102).
Apresentar Ismael, a partir do depoimento de seu melhor amigo e de sua esposa, é estabelecer um diálogo tenso e, às vezes, aparentemente, irreconciliável. Quando chegar ao fim, quem sabe um novo começo? Não uma única verdade, não um único passado. Provavelmente um passado de Murilo e um outro passado, o de Adalgisa. E, como diz David Lowenthal, chegar à compreensão de que: “Recordamos as nossas próprias experiências em primeira mão, e o passado que relembramos é intrinsecamente o nosso próprio passado”(Lowenthal, Revista Projeto História67).
Com a palavra, a mulher:
Vê-lo dominando os argumentos dos outros, quase todos com uma cultura cem vezes maior do que a sua, constituía para mim uma vaidade e uma vitória. Eu vibrava em silêncio [...]. Foi-se então construindo ao seu redor uma espécie de respeito à sua palavra e alguns o consideravam mestre. Em conseqüência dessa homenagem a sua inteligência, o meu marido foi ficando dominado por um narcisismo inconcebível (Adalgisa Nery, A imaginária 121).
Quanto à questão da cultura de Ismael, mencionada por Adalgisa, Murilo discorda. Parece não acreditar que a cultura esteja diretamente relacionada ao acúmulo de diplomas ou à posse de uma biblioteca, por causa deste último fato e por Ismael estar sempre vestido à última moda, alguns dos intelectuais cariocas não lhe davam crédito enquanto filósofo. Adalgisa deveria conhecer (e Murilo esclarece) o método de cultura do marido:
Quando ele queria saber qualquer coisa, dirigia-se a um conhecedor do assunto. Muitas vezes sabia em dez minutos o que levaria semanas a aprender se consultasse um livro. Ismael lia no grande livro sempre aberto, no livro dos homens e da vida. Com ou sem biblioteca, o fato é que durante treze anos de convivência diária com ele, nunca o vi engasgar ou emudecer ao abordar qualquer assunto (Mendes, Recordações de Ismael Nery 23).
Era partidário de um sistema de educação harmônica da inteligência e da sensibilidade, contra o cultivo unilateral do temperamento. Achava que a utilidade dos livros residia sobretudo na possibilidade de, por eles, podermos conferir o que aprendemos diretamente na vida5. No entanto, no artigo X, há uma observação de Murilo, que Adalgisa bem poderia ter empregado para sustentar sua opinião a respeito da cultura de Ismael:“Ismael só gostava de livros com gravuras. Mesmo a Bíblia deveria ser ilustrada” (Mendes, Recordações de Ismael Nery 92).
Murilo fala do homem incomum e sobrehumano:
Sem deixar de ter sido católico um só dia, vivia no que eu chamava o estado de pesquisa, pois, um ano antes de sua morte, cheguei à conclusão de que ele esgotara todas as combinações intelectuais que o universo pode oferecer a uma cabeça humana (Mendes, Recordações de Ismael Nery 57).
Adalgisa fala sobre o marido não conseguir adaptar-se ao trabalho: “E eu estava segura de que não se adaptaria a qualquer sistema de ocupação, de meio, fossem eles os mais agradáveis” (Adalgisa Nery, A imaginária 107). Fala de um Ismael que possuía uma família estranha: “— A minha família é louca. Isso tudo o que você viu com aparência de paz, tranqüilidade e união... é falso” (Adalgisa Nery, A imaginária99). É nesse retrato de Ismael, pintado por duas pessoas tão próximas, que serão destacadas inúmeras“contradições”.
Antes disso, é preciso esclarecer que a obra de Adalgisa, apesar de autobiográfica, conta a história de Berenice, o único personagem nomeado na história:
Mas Berenice vem de mais longe. Foi o nome que Ismael Nery deu a um quadro seu, pintado na casa de Leonor Salles Duarte Novaes, mãe de dois de seus amigos mineiros, Washington e Rui, amigos também de Murilo Mendes. É a sobrinha-neta de Leonor, a jornalista Françoise Vernot, quem me conta.
“Ismael ia muito à casa de minha tia Nonoca, que cuidava dele como dos filhos. Meus primos Washington e Rui, poetas e pintores, morreram tuberculosos, um com 25 e o outro com 23 anos. Berenice era um espectro, e Ismael contou a minha tia que o quadro era baseado em um conto de Edgar Allan Poe [intitulado Berenice], sobre uma mulher que havia morrido tuberculosa e voltava à casa para tocar piano [....].
...............................................................................................................
[...] Berenice ficava em cima do piano. Nós nos referíamos a ela como a uma pessoa.”(Callado 31)6
Não há um quadro registrado com o título de Berenice nos catálogos de arte publicados sobre a obra de Ismael. Muito provavelmente, hoje em dia, a tal obra é conhecida como Figura feminina ao piano (fig. 2), pois a temática desta última é exatamente a mesma descrita por Françoise Vernot. Berenice também é um nome comum na poesia de Murilo, é uma das musas do poeta em A poesia em pânico (com produção de 1936 e 1937):
Berenice, Berenice,
Existes realmente?
“O amor sem consolo”
Ai de mim! Que trago no peito a imagem de Berenice
“A usurpadora”
Nem Berenice, nem o demônio nem o próprio Deus
“A vida futura”
Berenice!
És tu quem circula no ar
És tu quem floresce na terra
“O amor e o cosmo”
Tudo o que evoco vai nascendo ao gritar o teu nome
Berenice! Berenice!
“Futura visão”
Por que mão me permites, Berenice,
Comungar no teu corpo e no teu sangue.
Ecclesia”
Berenice é a mulher irreal e misteriosa na poesia de Murilo, surge integrada ao cosmo. Em A imaginária, de certa forma, não será muito diferente. Ainda menina, ela tenta sentir a energia das raízes no fundo da terra e, em certa ocasião, aguarda silenciosa o momento de se transformar em árvore.
Através da personagem, acompanha-se a vida de Adalgisa desde a infância até seu casamento e a morte prematura do marido. Ismael não é citado diretamente, ele é tratado apenas como “o meu marido”. A mãe dele será a“mãe do meu marido”, também há“a tia do meu marido”, “os amigos do meu marido”etc. O livro fez muito sucesso, teve três edições. Elsie Lessa o prefaciou e destacou “a cegueira daquele marido [...] ante o que ele chamava de falta de sentido de poesia e sensibilidade da mulher”.
Fig. 2 Figura feminina ao piano. Ismael Nery.óleo s/tela, 93 x 47 cm. Cole��o Hecilda e S�rgio Fadel, Rj.
A epígrafe, retirada da peça de teatro Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, é reveladora e faz pensar: “O homem forte é o que fica só”. Essa peça, encenada pela primeira vez em 1879, na Noruega, conta a história de Nora. A personagem, subjugada pelo marido, Helmer, resolve deixar a família e partir em busca da liberdade:“Eu preciso tentar educar a mim mesma. E você não é homem que me pode ajudar nisso. Eu tenho que fazer isso sozinha” (Ibsen 161). A história foi tomada como símbolo, emblema do movimento feminista no século XX, mas para o dramaturgo norueguês, ela aplicava-se à auto-realização do ser humano de maneira geral.
Murilo fala de Ismael como um artista visionário, ligado a tendências contemporâneas. Em todos os dezessete artigos, é sempre uma fascinante surpresa encontrar um artista místico, um intelectual católico e fervoroso (bem antes da renovação católica do século XX), um profeta de espírito dionisíaco que “vaticinara” o ano e o dia de sua morte — como de fato parece ter ocorrido. Quanto à Berenice / Adalgisa não dá crédito aos presságios do marido; muito pelo contrário, ela ressalta o quanto o artista a atormentara com suas idéias. A primeira vez que engravidou, foi motivo de muita alegria, até que ele cismou que a criança nasceria defeituosa:
De repente uma coisa que me preocupou: meu marido andava sobressaltado com a idéia de que a criança nascesse cega, aleijada ou morta. Havia alguma razão para esses temores? Tudo negava esse receio. Nós éramos jovens e sadios. Mas o meu marido possuía um temperamento estranho e eu já me certificara de que ele sentia falta de um temor para alimentar a sua vibração. Como estávamos atravessando um período de relativa tranqüilidade doméstica, a sua personalidade não estava satisfeita e necessitava de uma sombra no espírito para trepidações artísticas. (Adalgisa Nery, A imaginária 105)
Em seus artigos, Murilo retrata, largamente, as previsões de Ismael. Aos 16 anos, o jovem remador, chamado de “o grego”, por seu porte atlético e beleza, teria previsto a sua própria morte aos 33. Ainda naquela idade, teria dito que lhe aconteceria uma coisa grave por volta dos 30 anos, e, de fato, ocorreu: foi diagnosticada a tuberculose. Poucos dias antes de sua morte, declarou que morreria na Sexta-feira da Paixão. “No Sábado de aleluia disse [...] que não merecera morrer na sexta-feira santa mas que sem dúvida morreria na primeira sexta-feira da Páscoa” (Mendes, Recordações de Ismael Nery 149) e morreu.
A partir dos artigos de Murilo, Luiz Américo Souza Munari realizou um interessante levantamento a respeito do número 9 na vida de Ismael:
Terminado o século 19, quando se inicia uma nova era, o amor gera um novo ser. 9 meses e 9 dias depois de iniciado o ano de 1900 ele nasce marcado pela Balança, 9° signo do zodíaco e vive nesta cidade [Belém] até os 9 anos. Ismael, que era filho de Ismael, que conhecia as doenças de sua terra , perde-o vitimado por um ataque [cardíaco] aos 33 anos, 1909; Ismael completava 9 anos. Seu irmão João morre 9 anos depois, com 19 anos de idade, enquanto ele desaparece aos 33, estando no cemitério carioca de São João, no túmulo de número 999. (Aliás, expõe pintura pela primeira vez aos 29 anos). No poema “A virgem inútil” diz ele ter nascido em 09/07/1909. (Munari 1)
Mas Adalgisa empenha-se, decisivamente, em mostrar o contrário em seu livro. Ela não menciona as previsões e não faz referência a datas. Quanto ao primeiro filho dos Nery, Ivan, nasceu com saúde:
Meu primeiro filho nasceu normalmente numa manhã quente. Era um menino como tantos outros. Quando meu marido entrou no quarto para conhecer o menino, a princípio ficou enlevado, feliz e a sua fisionomia tornou-se serena [...]. Depois de examinar o filho cuidadosamente, elogiá-lo e acariciá-lo, ficou pensativo e exclamou:
Parece não ter nenhum defeito físico. Mas... terá inteligência normal? Será surdo ou terá outro defeito que ainda não se possa perceber? (Adalgisa Nery, A imaginária106)
Em A imaginária, Berenice menciona apenas o nascimento de dois filhos. Na realidade, o casal teria tido mais cinco filhos, porém só o primeiro e o último sobreviveram. O depoimento é do próprio Ivan Nery: “Nós fomos sete irmãos, daí a diferença de oito anos entre mim e o Manu [Emanuel Nery]. Os outros morreram, por várias causas [...]. Alguns, até nascidos, morreram. [...] Alguns chegaram a quase um ano; pelo menos minha avó disse.” (Callado 22)
Murilo, além de ressaltar a inteligência e a aguda percepção de Ismael: “achava também que ele deveria legar seu cérebro à Faculdade de Medicina, para ser examinado”, (Mendes, Recordações de Ismael Nery 35) também louva o homem capaz de vencer a todos os debates sem jamais alterar a voz e que largava qualquer coisa para ouvir um relato sobre alguém que estivesse sofrendo - “Em muitos pontos importantes seguiu o ideal de São Francisco” (Mendes, Recordações de Ismael Nery 95). Mas Adalgisa, novamente, instaura a contradição e será imperiosa. Logo no início da doença, Ismael ter-lhe-ia dito:
Como você está ficando banal e comum! [...] Sensibilidade não é coisa que eu possa ensinar ou dar. Inegavelmente, você tem qualidades e virtudes, mas a minha mulher precisa ser violentada por uma seqüência de choques, a ponto de tornar-se um ser quase criado à minha semelhança.
O narcisismo tinha chegado ao máximo. Quanta ignorância na boca de um homem notavelmente inteligente, quanto desconhecimento da mulher que há doze anos vivia ao seu lado, transparente, sem caminhos e sem esconderijos. Era de pasmar! Dizer que eu era destituída de romantismo, de poesia e de sensibilidade, era a maior monstruosidade que eu poderia ouvir [...]. Eu, a mulher despida de intensidade de espírito, sem profundidade, mulher sem inteligência, nua de sensibilidade e sem lastro de alma. Seria essa definição uma verdade? (Adalgisa Nery, A imaginária155-156)
Seria este o mesmo Ismael que dizia “sou o germe de um Deus e toda gente o é também”? Toda gente, exceto Adalgisa Nery? Este é um pouco do dilema de se penetrar no passado de Ismael. “...Virginia Woolf [...] caçoava do hábito dos biógrafos de ‘explicar seis ou sete eus, quando uma pessoa pode possuir milhares deles’ ” (Loriga, Jogos de escala: a experiência da microanálise 245). E“caçoaria”mais ainda se soubesse que, no decorrer desta pesquisa, houve receio em admitir a existência de um Ismael machista, possessivo, que traiu a esposa e tinha“terror de ser traído” mesmo depois de morto. Mas ela concordaria com Ismael:
[...]
- Ó Deus [...]
Dai-me, como vós tendes, o poder de criar corpos para as
minhas almas
[...]
“Oração de Ismael Nery”7
O fato de o artista considerar Adalgisa uma criatura sem sensibilidade poética e profundidade é o fio condutor de A imaginária. A autora tentará provar o contrário do começo ao fim do romance. Berenice será retratada, desde a infância, como uma menina sensível, imaginativa e questionadora. “[...] A minha sensibilidade, entretanto, sofria de uma espécie de revelação poética, aflorando nas coisas mais simples e naturais [...]” (Adalgisa Nery, A imaginária 24). “É necessário preparar-se [uma velha com ar de bruxa profetizou na casa da menina Berenice] para a responsabilidade dessa outra alma que vai morar conjuntamente com a outra que você já possui”(Adalgisa Nery, A imaginária 44). Após o matrimônio, Berenice vai se dar conta de que a casinha onde se reuniam intelectuais até à madrugada, de que fala Murilo, é habitada por pessoas perturbadas:
Minha mãe é louca, mas eu confesso que não poderia viver sem os espetáculos que ela me proporciona.
Surpreendida, respondi:
Os loucos podem divertir e interessar quando fazemos uma visita rápida ao manicômio. Mas não quando vivemos dia e noite, anos a fio, em sua companhia.
Fui olhada com certa superioridade:
É. Você está ficando medíocre. Não aprendeu a tirar partido dos espetáculos fortes. (Adalgisa Nery, A imaginária 110)
Depois das sessões de histeria da mãe, o marido batia com a cabeça de encontro à parede e dava estrondosos socos no peito. Ismael via poeticidade na loucura da mãe, Adalgisa achava que ele possuía imaginação suficiente para criar sem necessitar daquilo. Então isso era motivo para ele lhe dizer que ela não tinha sensibilidade, estas cenas vão se repetir por doze anos.
A Murilo Mendes, provavelmente, não pareceu conveniente fornecer, nos seus artigos, informações desta natureza. Ainda assim, o Ismael místico, o profeta, do qual o amigo fala, em vez de ficar ofuscado em meio a esse dia-a-dia tão retumbante, acaba assumindo uma dimensão mais humana, propiciando uma compreensão mais ampla de sua personalidade e de sua obra.
Somente no leito de morte, Ismael tentaria desculpar-se do que havia repetido, insistentemente, à esposa:
Na semana que meu marido morreu, ele chamou-me quando os seus amigos estavam reunidos junto dele. — ‘Sempre afirmei que a minha mulher não tinha conteúdo poético, nem possuía qualidades de sensibilidade capazes de satisfazer a um homem como eu [...]. Estava enganado. Nestes últimos meses eu a conheci. Verifiquei que ela possui tudo que eu negava. As suas falhas são naturais na sua idade [...]. (Adalgisa Nery, A imaginária 169)
Compreender Berenice, e por extensão Ismael e Adalgisa, é também adentrar no contexto em que vivia a mulher até meados do século XX e, em muitos casos, ainda nos dias de hoje. Época, meio e ambiência são elementos muito importantes para explicar a trajetória destes dois indivíduos. Na casa de Ismael, segundo Murilo e outros amigos do artista que escreveram sobre o assunto, reuniam-se as grande inteligências do Rio. Quando falam de Adalgisa, ela surge sempre como a “bela”,a “musa”, o “vaso de flores” que adornava o ambiente. Quando ela fala dessas reuniões no romance, diz:
Jamais opinei. Era quase muda. Um padre jesuíta [provavelmente Leonel Franca], sábio, com uma personalidade e cultura fascinantes, realizava semanalmente uma conferência só para homens. Meu marido comparecia acompanhado do grupo de amigos. Terminada a conferência às onze horas da noite, vinham todos para a nossa casa e ali ficavam, até madrugada alta, discutindo o tema explanado pelo conferencista. Recordo-me que ficava sentada num divã, escutando os comentários sem que a minha presença perturbasse [...]. (Adalgisa Nery, A imaginária 120-121)8
Para melhor compreender Ismael, seria necessário considerar que “[...] qualquer que seja a sua originalidade aparente, uma vida não pode ser compreendida unicamente através de seus desvios ou singularidades, mas ao contrário, mostrando-se que cada desvio aparente em relação às normas ocorre em um contexto histórico que o justifica” (Levi 176). Há um aspecto da personalidade de Ismael, o seu narcisismo implacável, percebido também na sua produção artística, que se coaduna, perfeitamente, com esse contexto em que ele nasce, no qual a figura masculina tem sempre uma posição central. Essa combinação pode dizer muito sobre ele.
A esposa aceitou o pedido de desculpas, mas guardou outra opinião:
Talvez fosse a maneira de apagar da memória dos amigos uma espécie de depreciação a um objeto a que ele toda a vida negara um valor intrínseco [...]. Queixou-se de eu me haver guardado em mistério para ele, de jamais ter tido uma conversa mais profunda que denunciasse o grau da minha inteligência e da minha compreensão. Eu era a culpada do seu erro. (Adalgisa Nery, A imaginária 170)
Fig. 3 Chagall conta  sua mulher a história de Ismael Nery. Ismael Nery. Guache s/ papel, 19, 1 x 23, 3 cm. Col Particular, SP.

Fig. 4 Os amigos . Ismael Nery. Nanquim s/papel, 23,5 x 16 cm. Col. Gilberto Chateaubriand.

Fig. 5 Santos . Ismael Nery. Lápis s/papel 12,1 x 10 cm. Col. Rodolpho Ortenblad Filho, S.P.


Fig. 6 Morte de Ismael Nery. Ismael Nery. Aquarela s/papel, 17,5 x 27 cm . Col. Particular, SP.

Fig. 7 Enterro de Ismael Nery. Ismael Nery.
Aquarela s/papel, 15,7 x 23 cm. Col. Hecilda e Sérgio Fadel, RJ.
Dentre os aspectos da pintura e da poesia de Ismael, o símbolo do andrógino, um ser perfeito que reuniria os pólos positivo e negativo, masculino e feminino, é determinante. Muitas culturas possuem essa representação e a “androginia é o estado primordial que deve ser reconquistado [...]. Dizer — conforme o mito do Gênesis– que Eva foi tirada de uma costela de Adão significa que o todo humano era indiferenciado em sua origem” (Chevalier, Gueerbrant 53). O artista, um grande conhecedor da Bíblia, transplantava para o seu cotidiano esta simbologia. Daí as exigências e as cobranças à esposa, ela deveria ser, a todo custo, a sua versão feminina. Adalgisa trata indiretamente desse símbolo, mas não toca na produção artística do autor. Diante dos amigos do marido, ela tenta, antes deste morrer, provar ter sido o seu “componente feminino”, mas que ele nunca conseguiu perceber:
Vê a minha mão?
Sinto, mas não vejo. Está muito próximo.
Afastei-a dois palmos.
—E agora?
—Agora sim. Vejo-a perfeitamente.
—Eu estava tão junto a você que não permitia a perspectiva. Com a distância, você percebe os detalhes mais imperceptíveis. Ele abriu os olhos, fitou-me e ensaiou um sorriso de quem aceitava a explicação. (Adalgisa Nery, A imaginária 170)
A experiência da morte de Ismael, como não poderia deixar de ser, é distinta para ambos.9 Murilo fala da morte de um santo; Adalgisa da morte de um homem comum:
A experiência da participação na doença e na morte de Ismael Nery foi para mim – e acredito que o tenha sido também para os outros – um fato de vastas conseqüências... (Mendes, Recordações de Ismael Nery148)
—Eu tenho um caso com uma mulher[...].
[...]
—Eu já sabia.
[...]
Um dia [com a doença agravada], passados meses da sua confissão, ele perguntou-me se eu seria capaz de lhe proporcionar um favor. Respondi afirmativamente. Ele precisava mandar um recado a mulher [ela era casada] e não podia confiar em ninguém. Só eu, exclusivamente eu, podia transmitir as suas palavras. Olhei-o de frente, procurando ver no fundo de seus olhos um traço de crueldade ou de pureza [...]. (Adalgisa Nery, A imaginária 147-148)
Em pouco tempo adivinhei que recebera o privilégio de contemplar, na face da morte de Ismael Nery, um reflexo transfigurado do próprio filho de Deus. (Mendes, Recordações de Ismael Nery 152)
Uma chaga fétida e extensa abriu-se sobre o seu peito. Era proveniente dos remédios [...]. Muitas vezes a doença trazia-lhe uma excitação sexual incontrolada. Como um remédio que suavizasse a sua inquietação, eu entregava-me, sentindo nas minhas entranhas a febre escaldante [...]. (Adalgisa Nery, A imaginária 159-160)
Estendido na cama, a cabeça emergindo do hábito de franciscano, era um gótico prodigioso. Telefonei a dois ou três pintores, pedindo que fizessem um desenho de Ismael morto. Ninguém tinha coragem [...]. Derrota humana de Ismael Nery, vitória de Jesus Cristo nele. (Mendes, Recordações de Ismael Nery 149-150)
Fui para o meu quarto. Olhei a cama onde ele havia estado muitos meses e onde se tinha livrado da vida. (Adalgisa Nery, A imaginária 175)
Logo no início, a narradora-personagem de A imaginária já prepara o leitor: “muita coisa eu direi aqui sem o intuito de responsabilizar alguém pelas minhas amarguras e os meus fracassos” (28). Talvez haja mencionado isto para não ser interpretada como uma mulher rancorosa e implacável. A obra de Adalgisa é uma grande confissão solta no espaço. A história de Berenice é também a história da mulher do século XX em sua busca por emancipação.
Diante de um texto de caráter memorialístico (como um diário pessoal, cartas, livros de memórias), há o desejo positivista do encontro com a verdade, com os fatos tais quais se sucederam. Mas textos dessa natureza, até mesmo quando secretos, pressupõem sempre a possibilidade de leitura. O autor faz, assim, uma versão de si mesmo. Volta ao passado e o destila (Neves, Esboços11-24). E a própria Adalgisa diria, em seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, que “muita coisa ali é verdade, outras não”.
“As lembranças [...] se alteram quando revistas [...]. Aquilo que parece haver acontecido passa por contínua mudança. Quando recordamos, ampliamos determinados acontecimentos e então os reinterpretamos à luz da experiência subseqüente e da necessidade presente” (Lowenthal, Revista Projeto História 97). Murilo, por sua vez, produziu ensaios e estes, à primeira vista, tocam bem mais fundo a verdade se comparados a um romance. É difícil dizer, no entanto, o que é e o que não é exatamente “ficção”em se tratando de um texto escrito, seja ele literário ou não. Independente do tipo de texto, a expressão do autor adentra no âmbito da escrita. Haverá sempre versões de Ismael, muitas vezes elas se excluem, e, muito freqüentemente, se iluminam. O passado parecer ser, realmente, valendo-me de uma afirmação que também dá título a uma das obras de David Lowental (The past is a foreign country), um país estrangeiro.
 Fig. 8 Previsão da própria morte. Ismel Nery. Nanquim
s/papel, 15,6 x 22, 3 cm. Col. Particular, SP.

Notas
1 O presente trabalho, com algumas alterações, é parte de minha tese de doutorado em literatura brasileira (Pássaros de carne e lenda: a poesia plástica de Ismael Nery e Murilo Mendes), defendida em 2008 na Universidade de São Paulo (USP). Ismael Nery (1900-1934) foi um pintor nascido em Belém do Pará, quando ele tinha nove anos seu pai morreu e a família passou a residir no Rio de Janeiro. Nos últimos anos de sua vida, escreveu poesia. Murilo Mendes (1901-1975) foi um poeta mineiro, nasceu em Juiz de Fora. Na juventude, mudou-se para o Rio de Janeiro e lá se tornou um grande amigo de Ismael. Quanto à Adalgisa Nery (1905-1980), nasceu no Rio de Janeiro e casou-se aos 16 anos com Ismael. Foi poeta, escritora, jornalista (por conta de seu segundo casamento) e deputada pelo antigo Estado da Guanabara.
2 O artista retratou, freqüentemente, sua vida por meio de imagens – as figuras aqui apresentadas (1-8) dialogam com o que estamos expondo.
3 Ismael Nery colocou-se na vida, na arte e em sua poesia como um artista envolto em forte aura de espiritualidade, verdadeiro profeta trágico: "Três mulheres pariram de mim três filhos iguais. / Samuel, Ismael e Israel. / O primeiro no mar, o segundo no ar, o terceiro no fogo. / A terra toda percorreram os três irmãos / Sem nunca se terem encontrado, / Sem nunca terem sabido o nome de seu pai / Que com eles andou. / Que pra eles deixou três mulheres iguais" - "Poemas pré-essencialistas". Ver: Mattar, Denise (Org.). Ismael Nery 100 anos: a poética de um mito(catálogo). Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil; São Paulo: Fundação Armando Álvares Penteado, 2000, p. 72. Murilo Mendes trouxe para sua poesia esse Ismael, como em: "Acima dos cubos verdes e das esferas azuis / um Ente magnético sopra o espírito da vida./ Depois de fixar o contorno dos corpos / transpõe a região que nasceu sob o signo do amor /e reúne num abraço as partes desconhecidas do mundo." - "Saudação a Ismael Nery". Ver: Mendes, Murilo. Obras completas: poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 115. Foi marcante para Murilo o catolicismo ecumênico de Ismael, que acreditava na vocação transcendente do homem e interpretava tudo através de idéias essencialistas. Do Essencialismo, o sistema filosófico oral criado por Ismael, pouco se sabe. Ver: Mendes, Murilo. A ordem (? 1935): 315 e MENDES, Murilo. “Ismael Nery, poeta essencialista”.In: Boletim de Ariel 10 (julho ?): 268-269. A questão predominante seria a abstração do espaço e do tempo, longe dessas duas noções, segundo Ismael, as questões da vida seriam melhor compreendidas. O essencialista também deveria buscar o centro nas suas análises, mediar e assim obeter resultados mais equilibrados. Murilo Mendes parece ter palmilhando as verdades essencialistas anunciadas pelo amigo. O poeta procurou pelos princípios essencialistas em vários momentos da história da humanidade e em variadas culturas. Buscou-os, por exemplo, entre os gregos, hindus, chineses, na Bíblia. Ver: Mendes, Murilo. “A poesia e os confucionistas”.In: Boletim de Ariel 1 (outubro ?): ? Murilo esteve sempre em busca do equilíbrio, da harmonia (ainda que sob o aspecto de "bagunça transcendental"), da unidade, das origens e começos essenciais. Ao contrário do que afirmaram no passado alguns críticos, Ismael não foi apenas o amigo da juventude que teria influenciado alguns dos primeiros livros de Murilo. Na verdade, Ismael foi uma referência constante e definitiva - tanto na escrita da poesia de Murilo, quanto na interpretação crítica de obras pictóricas, musicais ou teatrais. Sobre a crítica de arte de Murilo, ver catálogo da exposição: Murilo Mendes: 1901 –2001. Juiz de Fora: CEMM / UFJF, 2001. Adalgisa Nery, em A Imaginária, traz o Ismael-homem, sem o forte traço de espiritualidade. Os valores artísticos e filosóficos da obra de Ismael, presentes largamente na obra de Murilo, Adalgisa também irá apresentá-los sob vários aspectos em sua prosa e em sua poesia. Um verdadeiro canto de amor a Ismael, sua obra em versos trata de temas como a unidade entre os esposos e o tema do andrógino, presentes constantemente na pintura do marido: "Vesti-me de jacintos / E espero que me possuas à vista das gentes / Para que todos saibam que só tu / És meu Criador e meu Senhor" - a poeta como Eva submissa. Ver: NERY, Adalgisa. “Dia de santo amado”.In: Mundos Oscilantes (poesia reunida). Rio de Janeiro: José Olympio, 1962, p.6. No entanto, o tema da androginia, que em Ismael gira mais em torno da fusão e unidade do par amoroso, algumas vezes em Adalgisa ganha contornos quase feministas e em pequenas ocorrências até de blasfêmia: "Na terra em que eu pisar / Nem a relva nascerá / E nela se levantarão prisões e hospitais. / A mulher grávida que pronunciar meu nome / Terá um filho cego. / O homem que eu acariciar se tornará estéril / E as crianças que olharem meu retrato / Perderão a inocência./ [...] / Serei a unidade de mim mesma / Fora de Deus e sua criação" - a poeta como Lilith, a lua negra. Ver: NERY, Adalgisa. "Eu só comigo". In: Mundos Oscilantes (poesia reunida). Rio de Janeiro: J. Olympio, 1962, p. 14.
4 Mário Barata fez um percurso diferente e escreveu o artigo: Ismael Nery: detalhe através da memória de Adalgisa. Ver: AMARAL, Aracy (Org.). Ismael Nery, 50 anos depois (catálogo). Exposição MAC - USP. Outubro / dezembro, 1984, p. 163-166.
5 Ibidem, p. 30.
6 No conto, Berenice não toca piano e nem retorna, já morta, na calada da noite. Esses parecem ter sido acréscimos que Ismael fez, com sua pintura, à narrativa. Quanto ao aspecto físico, a personagem é retratada pelo pintor exatamente como Poe a descreveu: magra e espectral como se tivesse saído de um sonho, tem cabelos aloirados e veste-se sempre de preto. Os olhos fundos e opacos são assustadores e parecem não ter “pupila”, conforme o escritor menciona. Em muitas outras pinturas de Ismael, as pessoas são retratadas sem a pupila, muito semelhante ao que acontece na estatuária grega também. O narrador-personagem do conto, primo de Berenice, também diz que sua família “tem sido chamada uma raça de visionários”(o visionarismo é um aspecto recorrente na pintura e na poesia de Ismael, Murilo e Adalgisa). A única referência à música surge logo no início do conto, diz o narrador: “Sinto, porém, uma lembrança de [...] sons musicais.” Ver: Poe, Edgar Alan. Berenice. In: Ficção completa, prosa e ensaios. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001, p. 191-198.
7 Todos os poemas de Ismael Nery foram extraídos de: MATTAR, Denise (Org.).Ismael Nery 100 anos: a poética de um mito(catálogo). Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil; São Paulo: Fundação Armando Álvares Penteado, 2000.
8 Centro Dom Vital era um centro masculino e clerical, não deve ter existido membros mulheres. As palestras para elas, se existiram, deviam ser mais ligadas à piedade, caridade, mas nunca de cunho filosófico.
9 A matéria do vivido é mais ampla que a capacidade de narrar. É preciso condensar, abreviar. Caso contrário, se todo o vivido fosse narrado, seria necessária a mesma quantidade de tempo para narrar. Muitas vezes, uma personagem, num sonho, representa tudo o que vivemos num dia. Para Freud, cada vez que contamos uma história, nós a contamos de maneira deslocada. Sempre há deslocamento, se não houvesse seria como se estivéssemos nus. Ver condensação e deslocamento em: FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1999, p. 276-278.
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Fonte Iconográfica
Figs. 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8: MATTAR, Denise (Org.). Ismael Nery (catálogo). Rio de Janeiro: Ministério da Cultura / Banco Pactual, 2004.
Fig. 4: MATTAR, Denise (Org.). IsmaelNery 100 anos: a poética de um mito (catálogo). Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil; São Paulo: Fundação Armando Álvares Penteado, 2000.

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