Como eu vibro este verso, esgrimo e torço,
Tu, Artista sereno, esgrime e torce;
Emprega apenas um pequeno esforço
Mas sem que a Estrofe a pura idéia force.
Para que surja claramente o verso,
Livre organismo que palpita e vibra,
É mister um sistema altivo e terso
De nervos, sangue e músculos, e fibra.
Que o verso parta e gire -- como a flecha
Que d’alto do ar, aves, além, derruba;
E como os leões, ruja feroz na brecha
Da Estrofe, alvoroçando a cauda e a juba.
Para que tenhas toda a envergadura
De asa e o teu verso, de ampla cimitarra
Turca, apresente a lâmina segura,
Poeta, é mister, como os leões, ter garra.
Essa bravura atlética e leonina
Só podem ter artistas deslumbrado:
Que souberam sorver pela retina
A luz eterna dos glorificados.
Busca palavras límpidas e castas,
Novas e raras, de clarões radiosos,
Dentre as ondas mais pródigas, mais vastas
Dos sentimentos mais maravilhosos.
Busca também palavras velhas, busca,
Limpa-as, dá-lhes o brilho necessário
E então verás que cada qual corusca
Com dobrado fulgor extraordinário.nódoa
Que as frases velhas são como as espadas
Cheias de nódoa, de ferrugem, velhas
Mas que assim mesmo estando enferrujadas
Tu, grande Artista, as brunes e as espelhas.
Faz dos teus pensamentos argonautas
Rasgando as largas amplidões marinhas,
Soprando, à lua, peregrinas flautas,
Louros pagãos sob o dossel das vinhas.
Assim, pois, saberás tudo o que sabe
Quem anda por alturas mais serenas
E aprenderás então como é que cabe
A Natureza numa estrofe apenas.
Assim terás o culto pela Forma,
Culto que prende os belos gregos da Arte
E levará no teu ginete, a norma
Dessa transformação, por toda a parse.
Enche de estranhas vibrações sonoras
A tua Estrofe, majestosamente...
Põe nela todo o incêndio das auroras
Para torná-la emocional e ardente.
Derrama luz e cânticos e poemas
No verso e torna-o musical e doce
Como se o coração, nessas supremas
Estrofes, puro e diluído fosse.
Que as águias nobres do teu verve esvoacem
Alto, no Azul, por entre os sóis e as galas,
Cantem sonoras e cantando passem
Dos Anjos brancos através das alas...
E canta o amor, o sol, o mar e as rosas,
E da mulher a graça diamantina
E das altas colheitas luminosas
A lua, Juno branca e peregrine.
Vibra toda essa luz que do ar transborda
Toda essa luz nos versos vai vibrando
E na harpa do teu Sonho, corda a corda,
Deixa que as Ilusões passem cantando.
Na alma do artista, alma que trina e arrulha
Que adora e anseia, que deseja e que ama
Gera-se muita vez uma fagulha
Que se transforma numa grande chama.
Faz estrofes assim! E após na chama
Do amor, de fecundá-las e acendê-las,
Derrama em cima lágrimas, derrama,
Como as eflorescências das Estrelas...
Tu, Artista sereno, esgrime e torce;
Emprega apenas um pequeno esforço
Mas sem que a Estrofe a pura idéia force.
Para que surja claramente o verso,
Livre organismo que palpita e vibra,
É mister um sistema altivo e terso
De nervos, sangue e músculos, e fibra.
Que o verso parta e gire -- como a flecha
Que d’alto do ar, aves, além, derruba;
E como os leões, ruja feroz na brecha
Da Estrofe, alvoroçando a cauda e a juba.
Para que tenhas toda a envergadura
De asa e o teu verso, de ampla cimitarra
Turca, apresente a lâmina segura,
Poeta, é mister, como os leões, ter garra.
Essa bravura atlética e leonina
Só podem ter artistas deslumbrado:
Que souberam sorver pela retina
A luz eterna dos glorificados.
Busca palavras límpidas e castas,
Novas e raras, de clarões radiosos,
Dentre as ondas mais pródigas, mais vastas
Dos sentimentos mais maravilhosos.
Busca também palavras velhas, busca,
Limpa-as, dá-lhes o brilho necessário
E então verás que cada qual corusca
Com dobrado fulgor extraordinário.nódoa
Que as frases velhas são como as espadas
Cheias de nódoa, de ferrugem, velhas
Mas que assim mesmo estando enferrujadas
Tu, grande Artista, as brunes e as espelhas.
Faz dos teus pensamentos argonautas
Rasgando as largas amplidões marinhas,
Soprando, à lua, peregrinas flautas,
Louros pagãos sob o dossel das vinhas.
Assim, pois, saberás tudo o que sabe
Quem anda por alturas mais serenas
E aprenderás então como é que cabe
A Natureza numa estrofe apenas.
Assim terás o culto pela Forma,
Culto que prende os belos gregos da Arte
E levará no teu ginete, a norma
Dessa transformação, por toda a parse.
Enche de estranhas vibrações sonoras
A tua Estrofe, majestosamente...
Põe nela todo o incêndio das auroras
Para torná-la emocional e ardente.
Derrama luz e cânticos e poemas
No verso e torna-o musical e doce
Como se o coração, nessas supremas
Estrofes, puro e diluído fosse.
Que as águias nobres do teu verve esvoacem
Alto, no Azul, por entre os sóis e as galas,
Cantem sonoras e cantando passem
Dos Anjos brancos através das alas...
E canta o amor, o sol, o mar e as rosas,
E da mulher a graça diamantina
E das altas colheitas luminosas
A lua, Juno branca e peregrine.
Vibra toda essa luz que do ar transborda
Toda essa luz nos versos vai vibrando
E na harpa do teu Sonho, corda a corda,
Deixa que as Ilusões passem cantando.
Na alma do artista, alma que trina e arrulha
Que adora e anseia, que deseja e que ama
Gera-se muita vez uma fagulha
Que se transforma numa grande chama.
Faz estrofes assim! E após na chama
Do amor, de fecundá-las e acendê-las,
Derrama em cima lágrimas, derrama,
Como as eflorescências das Estrelas...
Cruz e Sousa,O LIVRO DERRADEIRO-Dispersas
"Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado. Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor, que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor. Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem ter – não é o dinheiro, não são os aplausos - é a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos. Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica."
ResponderExcluir(O Ator, de Plínio Marcos - 1986)
Texto completo: http://www.pliniomarcos.com/popup/livros-oator.htm
"há quem pense
ResponderExcluirque sabe
como deve ser o poema
eu
mal sei
como gostaria que ele fosse
porque eu mudo
o mundo muda
e a poesia irrompe
donde menos se espera
às vezes
cheirando a flor
às vezes
desatada no olor
da fruta podre
que no podre se abisma
(quanto mais perto da noite
mais grita
o aroma)
às vezes
num moer
de silêncio
num pequeno armarinho no Estácio
de tarde:
xícaras empoeiradas
numa caixa de papelão
enquanto os ônibus passam ruidosamente
à porta
e ali
dentro do silêncio
da tarde menor do comércio
do pequeno comércio
do Rio de Janeiro
na loja do Kalil
estaria nascendo o poema?
desabrocharia
o poema
em meio àquelas mercadorias
num invisível caule?
àquela tarde
e próximo ao hospital da Polícia Militar?
Talvez eu não lhe tenha dado tempo
- que o Amilcar estava ansioso
e já se aproximava o ônibus Rio omprido-Leblon.
Assim me fui
e o poema ficou
inaturo
parte no ar da loja
parte como poeira
em meus cabelos.
A verdade porém
é que
onde a poesia sopra
por um átimo de tempo
(de todo o tempo gasto no gás
das galáxias
rugindo)
por um átimo de átimo
que seja
freme o coração acende-se
alguma coisa dourada
na pele
e não importa se é
numa loja
do Estácio de tarde
- numa tarde qualquer perdida na cidade -
enfim
onde ela sopra
(a poesia)
muda-se o tempo
em coisas
eternas
xícaras
prateleiras
carretéis
de linha
que a gente carregará
ou melhor
flutuará
com elas
fora da gravidade
e da morte:
as xí-
caras as
peras podres as
asas do pombo
(o fragor
das asas) as casas
os quintais as aves
os ovos as
flutua o poeta
prenhe do poema.
(...)"
(Nasce O Poema, de Ferrera Gular)
poema completo: http://leaoramos.blogspot.com/2009/04/ha-quem-pense-que-sabe-como-deve-ser-o.html