segunda-feira, 14 de março de 2011

O PORTO, BAUDELAIRE

Um porto é um lugar charmoso para uma alma fatigada das lutas da vida. A amplitude do céu, a arquitetura móvel das nuvens, as colorações mutantes do mar, a cintilação dos faróis são um prisma maravilhosamente próprio para agradar aos olhos sem jamais os cansar. As formas projetadas dos navios, de aparelhagens complicadas, às quais as ondas imprimem oscilações harmoniosas, servem para manter na alma um gosto pelo ritmo e pela beleza. Além disso, sobretudo, há uma espécie de prazer misterioso e aristocrático para todo aquele que não tem mais nem curiosidade, nem ambição, em contemplar, deitado em um terraço ou de cotovelos na balaustrada, todos esses movimentos dos que partem e dos que voltam, dos que ainda têm a força de querer, o desejo de viajar ou de enriquecer.
In BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa. Tradução de Gilson Maurity. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Record, 2009, p.230-231,Tradução de Gilson Maurity.

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