domingo, 27 de março de 2011

Seja o mais leve inseto...

V
 
Seja o mais leve inseto, a laje mais pesada, 
Tudo se decompõe na efêmera jornada. 
Não há bronze que ature os arrastos tiranos 
Da cheia assoladora e indomável dos anos; 
Só o espírito ascende, escapa às tempestades, 
Não rola na ladeira eterna das idades.


O sol que resplandece, a estrela que cintila, 
Tudo se transfigura em mentirosa argila, 
Nada é perpétuo, nada, embora nos conforte 
A vida a ressurgir dos escombros da morte, 
Para voltar de novo aos trágicos momentos, 
Ao silêncio voraz dos apodrecimentos.


Seca uma folha idosa, outra folha rebenta,
E torna, cedo ou tarde, à poeira que a sustenta.
Morre uma flor galante, outra flor engraçada
Vinga, e a ceifa devora a planta engrinaldada;
Sazona um fruto ameno, outro fruto aparece
Verde, e, se o poupa o  campônio, algum  dia apodrece...


É a morte soberana, o lodo nivelando, 
O tempo demolindo, e o tempo edificando. 
Falemos do painel das tintas desbotadas... 
Quantos vestígios mil de coisas acabadas!
Ferreira Itajubá

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