segunda-feira, 14 de março de 2011

OS OLHOS DA ARTE

"Enquanto estiver vivo não vou deixar de me indignar e a indignação não traz ódio, traz energia criativa." Siron Franco

Siron Franco. Enxadas. Instalação,1999

Siron Franco, tríplice condição: ser humano, cidadão, artista.
Artista-cidadão entre cidadãos, imerso nas tensões da sociedade, manifestando-se sobre as aflições éticas do seu tempo.
De certo modo, o exercício da arte já é político por si, sem precisar defender nenhuma causa a princípio. Mas é claro que as questões locais, a violência, ecologia, distribuição da terra e tantas outras questões sociais e políticas, que são parte do mundo em que vivemos, podem vir a ser matéria de inquietação do artista.
Siron - (...)Acho, até mesmo, que a ética pode indicar caminhos para a estética. O que às vezes não é bem visto, sobretudo pelos curadores. É bom que se diga: os curadores, hoje, exercem um papel totalitário sobre as artes. São eles que decidem o que as pessoas vão ver ou não. Por exemplo, se um curador gosta de arte conceitual, só ela entra. Adoram a Alemanha, não importa o que venha de lá. Chamo isso de "cordeirismo cultural". Antigamente o termo usado era colonialismo.
Estado - O fenômeno das cabeças colonizadas funciona nos dois sentidos. Tudo o que vem de lá é bom. E se você é aceito lá fora, então as portas se abrem por aqui.
Siron - Ah, sim, se você faz sucesso lá fora, e sobretudo na Alemanha, então eles têm de engoli-lo. Isso é uma imbecilidade. Somos todos internacionais, mas um país tem de consumir a sua arte própria. Sobretudo um país de tanta diversidade cultural como é o Brasil. Não podemos viver escravos desses modismos excludentes. É estranho. Vem um crítico carioca e diz: chega de figuras humanas. Então se decreta que o figurativismo está proscrito. No entanto, você vai aos Estados Unidos, que é o outro modelo deles, e vê que todas as manifestações artísticas estão vivas, coexistindo.

4 comentários:

  1. ok tenho muito a questionar, não sei se esse é o melhor espaço pra questões tão longas, mas a princípio aí vai:
    discordo do " de certo modo o exercício da arte já é político" como assim de certo modo? o exercício da arte É um exercício político, que necessariamente está implicado na sua forma de agir no mundo que vai de acordo com seus princípios éticos e estéticos... aliás cá já entra a outra questão, aliás, pensar que qualquer ação humana possa ser desprovida de política, ética e estética ( como se essas coisas fossem indissociáveis) me parece no mínimo uma piada!
    fora isso acho que se pode abrir uma discussão interessante a respeito da curadoria, suas funções, repercussões etc... nõa querendo reduzir as colocações de Siron, mas acho importante colocar que igual, acho esse "nacionalismo", esse protecionismo com a cultura "regional", essa busca por uma identidade brasileira, no mínimo conservadora... não me faz sentido aceitar ou não uma obra, manifestação artística, etc, "só porque é brasileira", enfim, acho que a discussão sobre os critérios a serem considerados por uma curadoria, podem nos ser muito benéficas, mesmo porque a reflexão quanto ao "fazer artístico" sempre nos acrescentam, nos situam melhor política, ética e estéticamente...
    to aí pra quem quiser conversar , hehehehe
    até
    Mariana Molinos

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  2. Mari, "de certo ponto..." ameniza o rótulo de "artista "engajado que o Siron recebe em relação ao seu fazer artístico, extremamente político...
    Não sei até que ponto ele tende a esse protecionismo cultural, essas são apenas algumas falas de uma entrevista, acho que mais a fundo por tras do nacionalismo conservador habitam os protestos e indignação sobre a condição humana...
    Enquanto artista vejo um homem que em sua formação percorreu vários caminhos pra lá da nossa fronteira em busca de expandir seu olhar, muitas obras refletem uma identidade brasileira com uma técnica importada... até breve!!!

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  3. olá,
    acho importante o protesto e a indignação... me parece que Siron traz questões relevantes... só quis lembrar que levantar esta bandeira "pró-cultura brasileira" pode se embeber de um discurso protecionista perigoso...
    discurso esse que dependendo de como for trabalhado pode, inclusive, apontar posicionamentos políticos bastante complicados, ou não tão "engajados"... enfim, queria poder ler toda a entrevista e conhecer mais o artista, porque a princípio, do que aí está, eu diria que ele caminha num sentido que me parece muito interessante mas cujas idéias políticas ainda me parecem um tanto imaturas...

    ... enfim, como tinha dito é uma conversa que dá pano pra manga...


    (ah! anônimo quem?!)

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  4. Mari, eu sou anônimo, faltou assinar!

    Por questão de organização de todas as falas que foram surgindo, sugiro uma reflexão:

    - arte política X arte não política

    - CURADORIA "É bom que se diga: os curadores, hoje, exercem um papel totalitário sobre as artes. São eles que decidem o que as pessoas vão ver ou não."

    Vamos estacionar o Siron e depois resgatamos o restante da entrevista.
    Alguém sugere outra coisa?
    Vamos lá,
    marimarianamaíra!cadê o sandro?

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