Eu trazia, como cadáveres que me andassem funambulescamente amarrados às costas, num inquietante e interminável apodrecimento, todos os empirismos preconceituosos e não sei quanta camada morta, quanta raça d’África curiosa e desolada que a Fisiologia nulificara para sempre com o riso haeckeliano e papal!
CRUZ E SOUSA
O critério científico da inferioridade da raça negra nada tem em comum com a revoltante
exploração que dela fizeram os interesses escravistas norte-americanos (entre
parênteses, seria o caso de perguntar: por que só norte-americanos?)
exploração que dela fizeram os interesses escravistas norte-americanos (entre
parênteses, seria o caso de perguntar: por que só norte-americanos?)
médico e antropólogo Nina Rodrigues
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No mesmo Brasil culto do final do século XIX, em que Nina Rodrigues e seus discípulos na área de Medicina Legal apontavam a degenerescência das populações de origem africana, um poeta negro retinto, neto de escravos, filho de forros, João da Cruz e Sousa, acusava “a ditadora ciência d’hipóteses” de negar à sua raça “as funções do Entendimento e, principalmente do entendimento artístico da palavra escrita”
Cruz e Sousa lança o seu protesto contra os argumentos da ideologia dominante no discurso antropológico. Trata-se de um fenômeno notável de resistência cultural pelo qual o drama de uma existência, que é subjetivo e público ao mesmo tempo, sobe ao nível da consciência inconformada e se faz discurso, entrando assim, de pleno direito, na história objetiva da cultura.
ALFREDO BOSI
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* Fonte: SOUSA, João da Cruz e. Evocações. Edição fac-similar, FCC Edições. Florianópolis, 1986.
maíra barbosa
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